Tive a sorte de visitar um dos primeiros computadores
importados pelo Brasil, um Univac que ocupava andar inteiro na sede do Banco
Moreira Salles, atual Unibanco-Itaú. Tinha 19 anos.
Imaginei que o computador estivesse rodando um
programa de análise de crédito, usando análise discriminante ou
correlação múltipla, algo que na mão era virtualmente impossível.
"Estamos rodando a folha de pagamento",
para a minha grande surpresa.
Aí está um dos nós deste país.
Em vez de usarmos tecnologia avançada para
termos vantagens competitivas, precisamos usar tecnologia avançada para resolvermos
problemas criados pelo populismo dos assessores de nossos
políticos.
Leis trabalhistas tão complexas e complicadas, que
precisamos importar computadores para processá-los. Por isto os juros
dos bancos são elevados.
O trabalhador custa o dobro
do que ele efetivamente ganha de salário no final do mês, e por isto os
produtos, e neste caso os juros, precisam custar o dobro do que em outros
países.
Devido a esta visita, percebi que Análise de
Crédito tinha um futuro, e me especializei no assunto, e
muitos vocês me conhecem pelo termômetro de insolvência.
Ledo engado. Foi quando tive a segunda grande lição
sobre o Brasil.
Numa financeira, o primeiro modelo de Credit Scoring
que fiz, apontou que era muito arriscado emprestar para a profissão de
advogados. Parece que já eles usavam a morosidade do judiciário a seu
favor, e eram a profissão que mais atrasava. Recomendei não emprestar mais para
advogados.
"Você está completamente maluco? Você quer que
sejamos processados pela OAB?"
Não se pode no Brasil fazer análise prévia de
crédito, e recusar sob experiência estatística.
Seria considerado discriminação. Um insulto, uma
afronta, um racismo bancário. Não seria aceito culturalmente.
Por isto Bancos emprestam para todo mundo, até para
advogados, e o custo dos atrasos e inadimplência é custeado por nós
todos.
Hoje 27% dos cartões de crédito não são pagos em 90
dias, é uma verdadeira farra dos caloteiros.
Na realidade são pagos sim, por você com estas taxas
"solidárias".
Segundo, devido a praga do nominalismo econômico, economistas, do
mundo inteiro, diga-se de passagem, taxam com Imposto de Renda o
"juro" nominal e não o juro real.
20% de 10% de juro nominal é 2% de imposto, e
se o juro real for 4%, isto significa 50% de imposto na fonte.
Ou seja, no Brasil de hoje, com juro baixo, o
Imposto de Renda é 50% do custo do dinheiro, é mais um erro brutal de
política econômica, causado pelo nominalismo econômico, que insisto tem que
ser extirpado deste país.
Com IR sobre juros de 50%, significa que Bancos
precisam cobrar o dobro de juros, só para pagar o Imposto de Renda do Governo
Federal.
Dilma não sabe disto. Ela sabe sobre Custo de
Capital, e eu a elogiei por isto, mas ela não tem formação completa em Administração
Financeira. E isto complica bem sua Presidência.
Tem mais. Em 1995, Pedro Malan acabou com a
Correção Monetária dos Balanços dos Bancos. Os Patrimônios dos Bancos
Brasileiros foram congelados aos preços de 1994. Por isto parecem
tão rentáveis.
Divida o Lucro de 2011, pelo Patrimônio
congelado de 1994, e o número será enorme, e fictício.
Publicar balanços que não espelham a realidade foi
considerado necessário para acabar com a inflação. Outro absurdo do nominalismo.
Pior, pelas regras da Basileia e do Banco Central, os
bancos somente poderão emprestar 12 vezes este patrimônio de 1994,
nada mais. Foram congelados a não emprestar.
Portanto reduzir juros no Brasil para poder emprestar
mais, não funciona, porque é proibido. Por lei.
Por isto desde 1995 os Bancos Brasileiros mudaram seu
foco para receitas de serviços, e não de empréstimos.
Dilma e Pedro Malan não sabem disto, mas agora você
sabe, e já sabia se acompanha este blog.
Querem reduzir os Juros dos Bancos?
Não é dando muros na mesa e insuflando o povo contra
Wall Street a la
Cristina Kirshner.
A culpa não é dos Bancos, que há muito deixaram de
focar em empréstimos e sim em seguros, serviços, aplicações e outras atividades
mais lucrativas.
Pense.
Publicado
do Blog do Professor Stephen Kanitz
Já que se estuda o pensamento de Professor Kanitz, porque não se dá uma escutadinha no que ele diz acerca da queda dos juros no Brasil. Sugiro aos responsáveis pelo blog a ver o endereço:
ResponderExcluirhttp://blog.kanitz.com.br/2012/05/novo-video-queda-de-juro-%C3%A9-sustent%C3%A1vel.html