quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cresce o espaço para o contador em micro e pequenas empresas


Jornal do Comércio - RS
O novo cenário da Contabilidade no Brasil trouxe consigo muitas oportunidades para os profissionais da área. A adoção das normas internacionais (IFRS), iniciada com empresas de capital aberto, começa agora a atingir as micro e pequenas empresas (MPEs). O contador Vagner Jaime Rodrigues, sócio da Trevisan Outsourcing, comenta a valorização do profissional contábil neste segmento.

JC Contabilidade - Qual é o espaço para a Contabilidade nas micro e pequenas empresas?
Vagner Jaime Rodrigues - O Brasil vem em um ritmo muito forte de transição das suas normas contábeis para o padrão internacional. Este processo tem como pano de fundo transformar a Contabilidade brasileira - hoje voltada principalmente para atender às exigências do fisco - para uma Contabilidade voltada para as decisões gerenciais dos usuários destas informações. Temos usuários externos que necessitam ter conhecimento da saúde financeira e econômica da empresa para tomadas de decisões quanto a investimentos e também usuários internos, efetivamente os gestores da empresa, que necessitam de informações sobre a rentabilidade, eficiência e eficácia da operação. A Contabilidade ganha espaço importante na vida dos gestores internos, passando a assumir efetivamente um papel de suporte às grandes decisões gerenciais.

Contabilidade - Houve um crescimento da importância do papel do contador neste segmento?
Rodrigues - Sim, ao mesmo tempo em que a Contabilidade ganha espaço junto aos gestores no sentido de ser uma ferramenta de suporte às grandes decisões, o contador também ocupa espaços mais importantes na organização. Quem efetivamente tem expertise de registrar e demonstrar, de forma organizada, as movimentações patrimoniais é o contador. Este profissional também está passando por uma transição de conhecimentos e responsabilidades. O novo perfil do contador exige noções de todas as áreas operacionais; ele passa a participar ativamente das decisões estratégicas, afinal, ninguém melhor dentro de uma organização que o contador para conhecer, com detalhes, a situação econômica e financeira da empresa. Ele deixa de ser um profissional que tinha como objetivos maiores cuidar da Contabilidade de forma a atender o fisco, para ser um profissional responsável pelas informações gerenciais que suportaram todas as decisões estratégicas da organização. Este é um grande momento para os profissionais de Contabilidade.

Contabilidade - O que o contador pode trazer de resultados para as MPEs que apostam na contratação destes profissionais?
Rodrigues - Desde que o contador absorva estas novas responsabilidades e assuma este novo perfil, a empresa para qual exerce a profissão só terá ganhos significativos. Veja que normalmente os empresários das MPEs não trazem no seu currículo conhecimento suficiente para entender os impactos das suas decisões no saúde da empresa. O contador passa a ser seu fiel consultor, demonstrando, de forma clara e padronizada, estes impactos. Os empresários da MPEs ganham em qualidade nas decisões tomadas, propiciando assim uma melhor lucratividade dos seus negócios.

Contabilidade - Quais são as características do trabalho do contador em MPEs?
Rodrigues - O contador passa a assumir um papel de consultor e orientador para as grandes decisões estratégicas a serem tomadas pelos empresários das MPEs. Neste tipo de empresa, é importante ressaltar, o atendimento acontece diretamente com o proprietário, levando a um relacionamento muito mais próximo. Isso exige que o contador seja mais paciente e capaz de levar exemplos ao empreendedor, uma vez que ele não possui o mesmo nível de conhecimento gerencial que um gestor de uma grande empresa.

JC Contabilidade - Como as micro e pequenas empresas estão percebendo a importância do trabalho do contador?
Rodrigues - Hoje as MPEs possuem facilidade maior de ir buscar recursos financeiros no mercado, por exemplo. Quando isso ocorre, é exigida uma série de demonstrativos contábeis e, a partir disso, surge a necessidade da figura do contador. O momento favorável que vive a economia brasileira dá maiores condições para que as micro e pequenas empresas cheguem a diferentes segmentos e, com a atuação de um contador, elas podem apresentar sua saúde financeira de forma organizada para diferentes clientes e fornecedores.
Fonte:  http://www.cfc.org.br/conteudo.aspx?codMenu=67&codConteudo=5538
Esta matéria é um contribuição do discente Diego Barbosa, componente do Grupo de  Estudo e Pesquisas Contabeis -  Graciliano Ramos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Internet, Autoridade Intelectual e Contabilidade

                                                                                                                                                       
Paulo Pires

                As civilizações vivem mergulhadas em um emaranhado de informações e os homens, por sabedoria intuitiva ou não, fazem questão de se alhearem a esse amontoado de dados porquanto quase nada do que deles se extrai é particularmente interessante ao executivo público, executivo privado ou mesmo ao cidadão comum.
A Internet registra por hora mais de quatro milhões de novos dados caracterizados por revelações pautadas em informações autênticas e/ou deturpações intencionais dirigidas a bilhões de usuários nem sempre ou quase nada preparados para separar o joio do trigo. Levando em conta os números de informações por hora, significa que por dia há em média 100 milhões de novos e velhos dados recauchutados com o desejo de se tornarem conhecidas. Mais assombroso ainda: Esses dados totalizam em média três bilhões de informações mensais e, devemos admitir sob o ponto de vista da racionalidade humana, não há cérebro capaz de armazenar [warehouse] analisar, interpretar e reproduzir corretamente tantos elementos ao mesmo tempo.
 A grande questão é saber distinguir o desnecessário daquilo que é imprescindível. O que é importante e interessante?  Eis uma questão que há anos vem movendo o espírito analítico do filósofo francês Roger Chartier. Este filósofo-professor [discípulo de Foucault] talvez seja entre os pensadores franceses da atualidade o mais cosmopolita. Sua biografia o menciona como membro do Conselho de Estudos Europeus de Harvard, professor da Universidade da Pensilvânia e Professor titular de Escrita e Cultura da Europa Moderna do Colégio de França, entre outros títulos e ocupações. Trata-se, pois, de um pensador com autoridade intelectual suficiente para manejar e publicizar ideias avançadas em relação ao Conhecimento.
Em uma de suas páginas diz o professor Chartier: “Um bom leitor é alguém que evita um certo número de livros. Um bom bibliotecário é um jardineiro que poda sua Biblioteca”. Refletindo sobre esse enunciado, vi-me obrigado a andar com ele prá cima e prá baixo na tentativa de interpor uma enantiose (antítese). Confesso minha frustração. Realmente, se buscarmos suporte em Montaigne (este um pensador eterno e imprescindível do Ocidente) haveremos de nos conformar e admitir sem maiores vacilações que o professor Chartier está correto. Montaigne repetia que “é melhor um cabeça bem feita do que uma cabeça cheia”. Sim. É melhor empreendermos um mergulho intelectual em meia dúzia de autores de alta densidade do que ocuparmos nosso cérebro com centenas de autores, pensadores e formuladores de baixa profundidade.
O que ocorre com a Internet é exatamente isso. Muitas informações apresentadas por essa imprescindível ferramenta precisam ser avaliadas com cautela e até mesmo questionadas. Nem tudo que está postado em seu espaço serve como referência para nossos trabalhos. Em sua última vinda ao Brasil, fazendo uma palestra na USP o professor Chartier, para ilustrar suas advertências, disse haver encontrado, com perplexidade, quatorze sites [portais, blogs] enaltecendo ou abrandando a questão ignominiosa do Holocausto. As distorções históricas desses sites o deixaram atônito.
Com o advento do Dia do Contabilista [25 de abril], aproveitamos o ponto e o contraponto relacionados à questão da Informação, para afirmarmos sem o germe do corporativismo [comum a quem defende sua profissão com unhas e dentes] ser hoje a Contabilidade o melhor e mais completo Sistema de Informações sobre as Entidades Públicas e Privadas à disposição da Humanidade. Insere-se neste espaço e com essa dimensão por ser a mais robusta, a mais objetiva das Ferramentas para se conhecer a posição Econômico-Financeira-Patrimonial das Organizações. Hoje e sempre estará na vanguarda dos instrumentos para desvendar com objetividade, extensão e profundidade todas as Estruturas Econômico-sociais em suas Internalidades e Externalidades relacionais.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O PAPEL DO CONTADOR NO MERCADO DE CAPITAIS

Crescimento do setor abre oportunidades para profissionais da área contábil em diferentes atuações

Luciane Costa
Após 10 anos trabalhando em um escritório contábil, Gilson Costa decidiu traçar um novo rumo para sua carreira. Há dois meses, o contador tornou-se assessor de investimentos na sede de Novo Hamburgo da Magnum Investimentos. A oportunidade surgiu a convite da empresa devido à experiência dele como investidor na bolsa de valores, atividade iniciada no último ano, apesar de o interesse vir desde a faculdade. Costa aceitou o desafio motivado pelas expectativas de crescimento do mercado de capitais. “Estou trabalhando e acreditando no fortalecimento do mercado no Brasil, que ainda é pequeno em relação ao seu potencial”, afirma Costa, referindo-se à possibilidade de aumento do número de investidores em função da estabilização da economia brasileira e da realização de grandes eventos esportivos no Brasil, como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016.
Tiago Prux, sócio e diretor de expansão da Magnum Investimentos, afirma que a expectativa de Costa em relação ao setor é válida, uma vez que o mercado de capitais volta a se recuperar após os efeitos da crise. “Entre 2008 e 2010, o número de investidores permaneceu estável, mas agora observamos mais empresas lançando ações na bolsa e mais pessoas querendo investir nelas”, diz. Apenas na Magnum, que possui como um de seus focos de atuação a educação financeira, mais de duas mil pessoas realizaram cursos na área entre novembro de 2010 e março de 2011.
Prova também do momento favorável, segundo Prux, é o aumento do número de empresas operando no setor e apostando na diversidade de produtos. “Hoje as pessoas não procuram mais o banco como referencial de investimentos; empresas como a Magnum oferecem mais opções e informações sobre operações de renda variável e também fixa, como fundos imobiliários”, comenta.
Estima-se que nos próximos anos o número de investidores no Brasil passe de 600 mil para 5 milhões e, para suprir essa nova demanda, é preciso a colocação de pessoal capacitado para atender à demanda, especialmente com habilidade em vendas e bom relacionamento interpessoal. “O perfil de quem trabalha no mercado de ações não precisa ser necessariamente técnico, mas é preciso que seja voltado para a área comercial”, reforça Prux.
Costa está se adaptando a esse novo viés de trabalho, aplicando os conhecimentos adquiridos em sua formação como contador para diferenciar-se dos colegas oriundos de outras graduações. Ele aposta em sua visão mais abrangente de fluxo de capitais e de características desse mercado para conquistar espaço. Quanto às características da nova função, o contador vê como uma oportunidade de emprego diferente para a Contabilidade. “O contador é responsável em transformar dados em informações valiosas para seus clientes; no mercado de capitais fazemos isso com foco em rentabilidade para eles, mostrando novos caminhos para seus investimentos”, afirma.
Transparência de informações é prioridade
Quando a atuação do contador que trabalha com renda variável é dentro de um banco, o papel dele deve ser garantir que seja disponibilizado o maior número de informações para sócios da instituição e para analistas do mercado, de forma a fornecer os dados necessários para a decisão sobre a aquisição de títulos. Werner Kohler é superintendente-executivo da Unidade de Contabilidade do Banrisul, sendo o responsável pelo processo contábil do banco e também pelo fornecimento de subsídios para o departamento de relação com investidores. “Levamos dados para esse setor que faz contato direto com os analistas, mas somos decisivos também para auxiliar na interpretação desses números”, comenta.
Kohler acredita que o papel do contador na área é fundamental para levar ao analista as práticas contábeis utilizadas pela empresa. “Fazemos um livro de dados no qual há o detalhamento de todas as carteiras, negócios, receitas e despesas do banco, de forma a garantir transparência para o investidor e para que ele entenda o ambiente onde atua a empresa, assim ele pode tomar uma decisão acertada quanto às ações. A transparência é cada vez mais fundamental para nosso trabalho”, afirma Kohler.
Além da garantia de informações acuradas, o contador deve agora se preocupar também em fazer isso de forma adequada em relação às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS). “Neste momento de globalização dos mercados, é papel do contador conhecer muito bem essas novas regras e oferecer aos investidores demonstrações financeiras comparadas a outras empresas do mundo”, defende Kohler, lembrando que o investidor não escolhe o local onde aplicar seu dinheiro pelo país em si, mas pela solidez de suas empresas.
Kohler reforça a necessidade de atualização do profissional, uma vez que as principais decisões e discussões a respeito do IFRS vêm de outros países. Para isso é importante participar de cursos e formações, ter domínio da língua inglesa e estar alinhado com as entidades de classe do mercado no qual a empresa está inserida. “Para ser um agente de melhoria quanto a essas regras, o contador deve estar presente nas discussões que levam as sugestões de alterações para as entidades responsáveis”.
Visão sistêmica abre espaço a profissionais
Uma das principais entidades de classe da área de mercado de capitais na região Sul tem à frente um contador. Marco Antonio dos Santos Martins é presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-Sul), além de professor da ESPM e da Faculdade São Francisco de Assis (Unifin) e sócio da J&M Investimentos.
Para ele, existe espaço para os contadores em várias funções devido à visão sistêmica desses profissionais. “O conhecimento aprofundado do funcionamento das empresas possibilita que eles ocupem posições como analista de investimentos, gestor de carteira e gerente de relações com investidores”, explica.
A capacidade de comunicar dados financeiros ao mercado é a característica dos profissionais contábeis mais valorizada pelo setor. “O mercado de capitais dá importância à qualidade da informação recebida para tomada de decisão. Por falar e entender essa linguagem, o contador leva vantagem em relação a outros profissionais.”
Como professor universitário, Martins tem observado também constante crescimento de interesse por parte dos estudantes em seguir carreira no setor. A motivação vem pela possibilidade de ganhos financeiros em um mercado em expansão, que oferece grande número de oportunidades. “Muitas universidades investem em disciplinas específicas, voltadas para administração financeira e análise das demonstrações contábeis”, exemplifica, lembrando que compreender bem as demonstrações faz diferença em como elas podem influenciar nos resultados de uma empresa.
Seleção de mão de obra acontece ainda na graduação
A capacidade de absorção de mão de obra em um mercado que vive forte expansão tem sido percebida ainda na universidade. A contadora Mara da Silva Carvalho, supervisora de Contabilidade da Solidus Investimentos, foi contratada pela empresa dois anos antes de sua formatura. A profissional foi selecionada como estagiária e logo virou assistente, devido à valorização de uma experiência anterior com gestão financeira.
Hoje ela faz parte da equipe responsável por garantir relatórios diários e mensais das atividades da corretora e dos sete fundos que ela administra, destinados para a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) e para o Banco Central. “Para trabalhar na área é preciso bastante conhecimento sobre legislação em relação a estas duas entidades, que muda com frequência”, explica.
Mara conta que, além da função voltada para resultados e operações da empresa, o setor de Contabilidade da Solidus atua também como consultor para alguns de seus clientes e seus contadores. “O mercado de capitais cresceu muito rápido, em período de Imposto de Renda muitos escritórios contábeis nos questionam sobre como declarar os valores obtidos na bolsa, por exemplo”, conta.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Contabilista no topo do prestígio

por José Maria Chapina Alcazar

A constatação é das empresas que buscam profissionais no mercado, as chamadas "caçadoras de talentos". Cada vez mais as organizações procuram executivos da área contábil, tendência internacional que revela a importância dessa categoria profissional para a eficácia dos empreendimentos. Para nós, que militamos na área, a procura de quadros especializados em contabilidade ou de consultorias de serviços contábeis de comprovada competência não constitui novidade. Há tempos identificamos que, em cenário de economias interdependentes e globalizadas, que estão a exigir decisões complexas, organizações de todos os portes e setores não podem abrir mão de profissionais como os contabilistas, eis que de seus conhecimentos dependem o acerto de decisões em áreas essenciais como a financeira, a tributária e a de controles, para citar algumas que são cruciais no sistema produtivo das Nações. Várias empresas de recrutamento de executivos, aqui e no exterior, realizaram pesquisas que confirmam a tendência. Uma das mais completas foi feita pela Consultoria Robert Half, que ouviu cerca de 1.900 responsáveis pela contratação nas empresas, em dez países. Na síntese de seu levantamento, concluiu que, no primeiro semestre de 2011, nada menos de 36% dos consultados pretendem aumentar suas equipes de executivos no Brasil, sendo que perto de 40% justamente na área da contabilidade.

O interessante é a análise que pesquisadores da Robert Half fazem para explicar a ampliação dessa demanda em nosso País. O contabilista, no Brasil mais do que em outros países, é hoje um quadro estratégico para todas as áreas das corporações. Basta pinçar a planilha de nossa carga tributária, seguramente uma das mais elevadas do mundo. O Brasil, como potência emergente, exige que os nossos especialistas se obriguem a uma constante atualização nas áreas fiscal e tributária, para acompanhar os prazos, as normas, decretos e regras de todos os calibres. O desafio que se impõe é o de criar sintonia com a velocidade das mudanças ou, em outros termos, conectar a antena com a tecnologia do conhecimento. Não por acaso, as empresas que, conforme mostram as pesquisas, pretendem se instalar no Brasil em breve, têm dificuldade em entender a complexidade do ambiente fiscal e tributário nacional. Isso ocorre, principalmente, com executivos estrangeiros em posição de comando. O contabilista, assim, deixa de ser um mero técnico para assumir a posição estratégica de aconselhamento, vital para a tomada de decisão de investidores, diretores e altos executivos.

Há ao menos duas conclusões a extrair desses fatos. A primeira é particularmente benfazeja: o contabilista é um profissional cada vez mais valorizado e, hoje, sua atuação pode ser comparada com a do advogado como operador do Direito e a do médico na área da Saúde. É por isso que propugnamos por vários anos e aplaudimos a decisão, tomada em 2010, de se fazer retornar, por força de Lei Federal, a obrigatoriedade do Exame de Suficiência, reconhecimento oficial de que o profissional de contabilidade reúne a capacitação exigida por um mercado em crescente expansão. Assim, mais do que uma exigência, trata-se de valorizar os conhecimentos de nossos profissionais.

A outra conclusão deriva da anterior. Mais do que nunca, o contabilista - executivo de empresa, empreendedor da área, jovem em início de atividade ou já maduro, não importa - está obrigado a se reciclar a cada dia, a considerar seu mister um aprendizado permanente. Esta atitude é fundamental não apenas porque vivemos um momento no qual a carreira deste profissional está em alta. Ela é mais do que necessária para consolidarmos, no mercado e na sociedade, a noção de que nossa atividade mudou de patamar e sua valorização deve ser prioritária em todos os empreendimentos que almejam sucesso nesses tempos de competitividade acirrada e busca de produtividade

por José Maria Chapina Alcazar  - Presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon-SP) e coordenador do Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor. - Via Monitor Mercantil (11.02.2011)



Essa Postagem, é uma contribuição de Rodrigo Neves, componente do Grupo de Pesquisa e Estudos Contábeis - Graciliano Ramos"

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Balanços globalizados

Valor Econômico
Adoção de normas internacionais de contabilidade tem efeitos distintos entre as empresas. Na soma total, aumento do lucro de 2009 foi de 7%.

Fernando Torres e Nelson Niero | De São Paulo

As normas internacionais de contabilidade, adotadas integralmente pelas empresas brasileiras de capital aberto a partir de 2010, causaram variações superiores a 10% em termos de lucro, para mais ou para menos, em 35% dos casos. No cômputo geral, no entanto, o impacto é diluído, como mostra a primeira safra de balanços pelas novas regras, chamadas de IFRS.
O prejuízo do grupo de telefonia Oi em 2009 virou lucro bilionário na nova versão, enquanto a fabricante de autopeças Mahle Metal Leve viu seu ganho recuar 60%.
As duas estão entre as cem maiores companhias de capital aberto do país, por receita de vendas, um grupo que lucrou R$ 128,9 bilhões em 2010.
Se esse número fosse comparado com os dados referentes a 2009, conforme eles tinham sido divulgados na época, sob as regras antigas, o crescimento do resultado teria sido de 36,8%.
Mas ao se considerar os dados de 2009 republicados em IFRS, o aumento do lucro foi menor, de 27,7%. Na mesma comparação anual, a receita líquida somada dessas companhias cresceu 22,9%, para R$ 989,9 bilhões, enquanto o lucro antes do resultado financeiro e dos tributos subiu 32,4%, para R$ 192,1 bilhões.
O levantamento foi feito pelo Valor Data, com base em dados divulgados no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e envolveu as cem maiores empresas abertas não financeiras em termos de receita líquida.
A diferença de variação se explica porque o lucro somado das empresas em 2009 subiu 7,1% com a migração do padrão usado naquele ano para o IFRS completo. O montante subiu de R$ 94,2 bilhões para R$ 100,9 bilhões.
Com a base de comparação mais alta, o crescimento percentual do lucro em 2010 fica menor.
Entre as mais de 30 novas regras que foram adotadas a partir de 2010, a que causou mais impacto nos resultados foi a que trata de fusões e aquisições.
No grupo das empresas observadas, o impacto mais relevante ocorreu na operadora de telefonia Oi. Quando fez o balanço de 2009 com as regras contábeis antigas, a empresa tinha divulgado prejuízo de R$ 435 milhões. Na nova versão, sob as regras internacionais, registrou lucro de R$ 4,27 bilhões.
A principal diferença é o reconhecimento por "valor justo" da compra da Invitel, controladora da Brasil Telecom, em comparação com o preço de mercado da participação dos acionistas não controladores da BrT, uma vez que o negócio foi concluído em janeiro de 2009, em um momento de baixa das ações no mercado.
O aumento do lucro somado das empresas com a mudança no padrão contábil não significa que todas as companhias passaram pela mesma situação. Das cem empresas da amostra, 54 tiveram melhora no lucro, 42 registraram queda e 4 mostraram estabilidade nos resultados.
Entre aquelas que viram a última linha do balanço diminuir está a Mahle Metal Leve. O resultado líquido de 2009 recuou de R$ 53,6 milhões para R$ 20,7 milhões de um padrão para outro. A explicação, nesse caso, se deve à decisão da companhia de atribuir um novo custo para seus prédios, máquinas e equipamentos, que compõem o ativo imobilizado. O ajuste para cima foi de R$ 293 milhões no consolidado.
Como consequência, esse ativo passou a ser depreciado novamente, o que reduziu o lucro.
O aumento do lucro somado das empresas no padrão IFRS tinha sido antecipado por estudos acadêmicos, entre os quais estão os feitos pela professora Edilene Santana Santos, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Eaesp-FGV), e publicados pelo Valor em duas ocasiões.
A hipótese principal desses estudos, que agora se comprova, era de que o sistema brasileiro de contabilidade antigo era mais conservador, assim como as normas usadas em países da Europa continental antes do IFRS.
Considerando o padrão internacional de contabilidade tanto para 2009 quanto para 2010, a rentabilidade das empresas ficou praticamente estável. Se o lucro líquido for dividido pela receita correspondente de cada período - obtendo-se a chamada margem líquida -, chega-se a um indicador de 13% em 2010 e de 12,5% em 2009. A rentabilidade patrimonial - o lucro sobre o patrimônio líquido - passou de 15,5% em 2009 para 15,1% no ano passado.
Boa parte dessa explicação está nas despesas financeiras líquidas, que pesaram mais em 2010. Em 2009, muitas empresas com dívida em dólar foram beneficiadas pela apreciação do real, o que contribuiu para que a conta financeira fosse negativa em apenas R$ 1,1 bilhão. Sem essa "ajuda" em 2010, a despesa financeira das cem empresas saltou para R$ 20,7 bilhões, o que acabou reduzindo a última linha do balanço, que serve como base para pagar os dividendos.
Olhando para o lucro antes do resultado financeiro e dos tributos, a margem das companhias subiu de 18% para 19,4%, o que sugere ganhos operacionais das empresas em 2010.

Novo modelo traz cinco lucros para investidor

Não bastassem as medidas gerenciais de resultado usadas pelas empresas nos comunicados ao mercado, a própria contabilidade passa a trazer uma profusão de "lucros" nos seus diversos demonstrativos. Há o lucro líquido, o abrangente, o das operações continuadas, o destinado aos sócios da controladora e o dos minoritários.
Para quem ainda não notou, o lucro líquido que aparece agora nos balanços não é comparável ao lucro líquido que se divulgava no Brasil até 2009. Conforme o padrão internacional, e ao contrário do que ocorria na regra contábil brasileira, o lucro líquido consolidado de uma empresa inclui o resultado que pertence aos acionistas minoritários de controladas.
O lucro que serve como base para pagamento de dividendos é aquele que aparece na demonstração como "atribuído aos acionistas da controladora". Esse dado é que de alguma forma pode ser comparável - apesar das mudanças contábeis - com o lucro líquido que se divulgava no passado no Brasil.
Segundo o professor Eliseu Martins, especialista em contabilidade e ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), todos essas medidas de lucro que aparecem nos demonstrativos contábeis agora já estavam lá antes das mudanças, embora com menos evidência do que no atual modelo.
Ainda segundo ele, as informações são dadas no mesmo nível e cada público pode escolher aquela que mais lhe interessa. Na opinião de Martins, por exemplo, o novo lucro líquido, que inclui o ganho pertencente a minoritários de subsidiárias, é melhor para acompanhar o desempenho da gestão. "Ele abrange o lucro referente a todo patrimônio que está sob controle da empresa da controladora", diz. Ele destaca também que essa medida tende a interessar mais aos credores, que querem saber se o conjunto da empresa vai bem ou mal e é bastante usada na Europa.
Já para o investidor que possui ações da companhia aberta a informação que mais interessa é o lucro atribuído aos acionistas da controladora, pois essa é a parte que lhe cabe e serve como base para os dividendos. Nos Estados Unidos, é a medida mais popular.
Em um exemplo, o grupo Pão de Açúcar controla a Casas Bahia, o que lhe permite apresentar na linha de receita todas as vendas da rede. Mas como o grupo detém apenas 50% das ações da Casas Bahia, metade do lucro obtido por essa controlada ficará com a família Klein, que possui os outros 50%, sem que os acionistas do Pão de Açúcar participem do resultado.
O lucro abrangente soma ao lucro líquido os efeitos que aparecem apenas no patrimônio, como ajuste de instrumentos financeiros disponíveis para venda. Já o lucro com operação continuadas exclui receitas e despesas ligadas a unidades que foram ou serão vendidas ou desativadas, por exemplo. (FT)


Essa Postagem, é uma contribuição de Deuselha Santos, componente do Grupo de Pesquisa e Estudos Contábeis - Graciliano Ramos.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

As lições do prefeito Graciliano Ramos


   Há mais de 70 anos, o administrador de uma cidadezinha perdida no sertão de Alagoas ensinava ao Brasil os caminhos da gestão pública bem-sucedida.
ZÓZIMO TAVARES
Editor-Chefe
   Ele entrou para a história como escritor. Por isso, pouco é lembrado como político e como administrador público. Mas não custa lembrar que foi o cargo de prefeito de uma cindadezinha do sertão alagoano que revelou para as letras aquele que seria consagrado como o melhor romancista brasileiro da geração modernista: Graciliano Ramos.
   Considerado um escritor tardio, seu livro de estréia, o romance Caetés, foi editado quando ele já tinha 40 anos. Ao todo, escreveu 18 livros, alguns publicados após sua morte.
   Filiado ao Partido Comunista, não fez concessões aos camaradas. Não aceitou a censura do partido às suas obras. Também não fez concessões às editoras.
   Foi um intelectual engajado, mas não teleguiado. Autodidata, falava fluentemente o inglês, o francês e o italiano. Seus livros ganharam o mundo e as telas do cinema. São Bernardo, Vidas Secas e Memórias do Cárcere viraram filmes, dirigidos por Nelson Pereira dos Santos. Fumante inveterado, morreu de câncer, aos 60 anos, em 1953.
   Há dois anos, o professor e crítico literário M. Paulo Nunes, presidente do Conselho Estadual de Cultura, lançou o livro ?As lições de Graciliano?, com artigos e ensaios sobre a obra do escritor. Tomo seu título de empréstimo para esta matéria em que pretendo resgatar Graciliano Ramos como político e gestor público, neste momento da posse de novos prefeitos que buscam referências capazes de subsidiá-los na busca do êxito de suas administrações.

O prefeito que virou escritor
   Nascido em Quebrangulo, no sertão alagoano, em 1892, Graciliano Ramos revelou-se como escritor ao dirigir a cidade de Palmeira dos Índios, da qual foi prefeito de 7 de janeiro de 1928 a 10 de abril de 1930. No exercício do cargo, redigiu dois relatórios (prestação de contas) da Prefeitura Municipal ao governador de Alagoas, Álvaro Paes.
   Publicados no Diário Oficial, os textos foram lidos pelo poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, dono da Editora Schmidt, no Rio. O editor calculou que aquele prefeito deveria ter um livro engavetado. Se tivesse, iria publicá-lo. E tinha mesmo, Caetés. A supervisão da publicação, em 1933, ficou a cargo de Jorge Amado.

Pai da Gestão Fiscal 
   Graciliano Ramos é considerado o Pai da Gestão Fiscal Responsável. Ao redigir os famosos relatórios da administração, o prefeito de Palmeira dos Índios dava exemplo de austeridade, respeito e ética no trato com o dinheiro do povo. A prestação de contas, de 1929, antes de expor o talento literário, revelava um homem público comprometido com a gestão fiscal responsável.
   Quando Graciliano foi prefeito, Palmeira dos Índios era uma cidade suja, com porcos andando pelas ruas. Ele ordenou que fossem eliminados. O encarregado de matar os porcos vadios voltou um dia, com a espingarda na mão, com a cara de assustado. O prefeito perguntou-lhe, então, se não havia mais porcos pelas ruas. O homem respondeu que sim, mas eram do coronel Sebastião, pai do senhor prefeito, ele não ia matar. Graciliano repreendeu-o: ?Prefeito não tem pai?. Demitiu o empregado por não cumprir as ordens recebidas.
Os relatórios
   No relatório da Prefeitura ao governador, em 10 de janeiro de 1929, prestando contas de seu primeiro ano de administração, Graciliano contou: ?Houve lamúrias e reclamações por se haver mexido no cisco preciosamente guardado no fundo dos quintais; lamúrias, reclamações e ameaças porque mandei matar algumas centenas de cães vagabundos; lamúrias, reclamações, ameaças, guinchos, berros e coices de fazendeiros que criavam bichos nas praças?. E, no ano seguinte: ?cães, porcos e outros bichos incômodos não tornaram a aparecer nas ruas. A cidade está limpa?.
O funcionalismo
   Dos funcionários que encontrou na Prefeitura, Graciliano conservou poucos: ?Saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma?. Governou debaixo de reclamações: ?Quando iniciei a rodovia de Sant?Ana, a opinião de alguns munícipes era de que ela não prestava, porque estava boa demais. Como se eles não a merecessem?.
   Austero, arredio a promessas e ao nepotismo, aplicava todos os recursos e prestava contas. Mesmo assim, não se considerava um grande administrador público. ?Convenho em que o dinheiro do povo poderia ser mais útil se estivesse nas mãos, ou nos bolsos, de outros menos incompetentes do que eu; em todo caso, transformando-o em pedra, cal, cimento, etc. sempre procedo melhor que se distribuísse com os meus parentes, que necessitam, coitados?.
Receita e despesa
   ?A receita, orçada em 50:000$000, subiu, apesar de o ano Ter sido péssimo, a 71:649$290, que não foram sempre bem aplicados por dois motivos: porque não me gabo de empregar dinheiro com inteligência e porque fiz despesas que não faria se elas não estivessem no orçamento?.

As estradas
   ?Procurei sempre os caminhos mais curtos. Na esradas que se abriram só há curvas onde as retas foram inteiramente impossíveis.
   Evitei emaranhar-me em teias de aranha.
   Certos indivíduos, não sei porque, imaginam que devem ser consultados; outros se julgam autoridade bastante para dizer aos contribuintes que não paguem impostos.
   Não me entendi com esses?.
Iluminação
   ?A prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar de ser o negócio referente à claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras. É um bluff. Pagamos até a luz que a lua nos dá. (...)
O cemitério
   ?Pensei em construir um novo cemitério, pois o que temos dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum tempo. São os munícipes que não reclamam?.

As obras
   ?Quando iniciei a rodovia de Sant?Ana, a opinião de alguns munícipes era de que ela não prestava porque estava boa demais. Como se eles não a merecessem. E argumentavam. Se aquilo não era péssimo, com certeza sairia caro, não poderia ser executado pelo município. (...)

A reeleição
   Apesar do sucesso administrativo, Graciliano deixou a Prefeitura certo de que não seria reeleito, porque fez corretamente o que tinha que ser feito. ?Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os meus erros, porém, foram da inteligência, que é fraca. Perdi vários amigos, ou indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta. Há descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por esses dois anos dependesse de um plebiscito, talvez eu não tivesse dez votos?.
 
   Tratava-se, naturalmente, de um exagero de escritor. Ele saiu-se na política quase tão bem quanto na literatura. A atenção que deu à educação quando prefeito rendeu-lhe o convite para assumir a direção da Instrução Pública de Alagoas, cargo correspondente hoje ao de Secretário de Educação. Aí  revolucionou os métodos de ensino utilizados no Estado.
   Graciliano foi prefeito quando o Brasil, sobretudo o interior, ainda nem sonhava com o aparato burocrático, técnico e legal que hoje se coloca à disposição dos gestores públicos. E deu conta plenamente do recado, porque nele havia espírito público, austeridade, competência, ética e coragem. Ao optar pela rigorosa aplicação do dinheiro público, pela transparência, pela impessoalidade, pela legalidade, dando as costas ao nepotismo, ao clientelismo e ao assistencialismo, ele fez uma administração avançada num Brasil atrasado.
   Que suas ações sirvam de lições aos novos prefeitos que querem passar à história como homens e mulheres públicos que honram o cargo e o mandato!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

ACADEMIA DO PAPO

Paulo Pires

Por que um e não outro?

            A vida é uma sucessão de acontecimentos ambíguos, múltiplos, dolorosos e deliciosos. Talvez o ser humano atinja seu melhor momento, seu ápice, quando se  dá conta com dignidade e humildade que se os seus sonhos [ou delírios] nutridos e acumulados durante anos não foram atingidos é porque a ele foi ignorada a importância que ele mesmo, sem perceber como os outros lhe vêem, se dá.
Os acontecimentos são muitos, repito. E para quem não tem muitas ambições, essa sucessão de fatos geralmente chega a ser prazerosa. O mesmo não ocorre para os que vivem obcecados por determinados fins. Neste caso a coisa não é tão adocicada. O mais grave é que, como disse um velho escritor francês, o essencial é invisível aos olhos. A maioria por desconhecer essa advertência, talvez sofra mais do que o destino lhe reservou. Dizia Drummond que os gregos inventaram o destino e nós, brasileiros, inventamos a superstição. Em um caso ou em outro, o que sabemos mesmo é pouco. “Eu só sei que nada sei” dizia o filósofo Sócrates. Ora, se o famoso filósofo dizia não saber nada, imagine aí este pobre escriba. A realidade é que não sabemos quase nada. E agora com a velocidade engendrada pelo mundo virtual, a dialética humana está quase que fora de controle. O diálogo do homem com o homem e com a vida pública e privada tornou-se um cipoal de teses e antíteses que ninguém de sã consciência sabe aproximar-se da realidade para realizar sua síntese.
O irlandês da anedota é quem está certo. A realidade é uma ilusão provocada pela escassez etílica. Os homens de negócios querem se mostrar competentes, sóbrios, organizados e informados.  Nosotros, demais atores, tentamos traduzir as realidades atuais e antigas em pedagogias e didáticas que mais complicam do que ajudam no esclarecimento de relações causais entre o que ocorreu com o que está ocorrendo.  Por incrível que pareça explicar o que ocorreu com o que está acontecendo exige outra solução visto que o de agora não aceita mais o desfecho que fora dado para o fato anterior. Como dizia meu velho pai: “Com mil e seiscentos diabos!”. O que fazer?
Calma, muita calma nessa hora. Na entrevista concedida pelo ex-ministro Delfim Neto, Programa Canal Livre, TV Bandeirantes (03/04/11) o experiente homem público e professor emérito da Universidade de São Paulo fez uma série de considerações sobre a realidade brasileira.  De quebra acrescentou breves, mas interessante exposição sobre o que está se passando em alguns lugares do mundo (alhures).
O que impressionou na entrevista, além da inteligência de doutor Delfim, foi a predisposição embutida nas perguntas dos jornalistas (Fernando Mitre, Antônio Teles e Joelmir Betting) para colocar “em cheque” todo conjunto de medidas do governo brasileiro em relação à nossa realidade. É claro que doutor Delfim, por ter mais experiência e conhecimento que os seus interlocutores, fez ver aos três jornalistas que a coisa não é como a gente quer. E disse mais: As medidas em sua maioria estão corretas. Os três entrevistadores ficaram perplexos.
Tenho cá prá mim, nas aflições contidas, que o pessoal do jornalismo não anda interpretando o mundo como deveria. Em minha avaliação, a maioria dos nossos jornalistas não leu ou não está lendo o que pensam os grandes pesquisadores dos melhores Centros e Institutos de Ciências Sociais.
Tenho essa sensação (sinto isso) que nossos jornalistas, embriagados pela boa técnica de sua profissão, esqueceram de avançar na leitura de outras fontes e deixaram de lado a reflexão para mergulharem espetacularmente na informação. Mas a vida não é feita só de informação, até porque informação pura, descontextualizada, não é conhecimento, é apenas um dado. Dados sem comprovação e aferição analítica são montanhas de tijolos sem destinação para construção de uma boa casa [o conhecimento].
Digo isso porque desde o surgimento de Elite de Poder do sociólogo americano Charles W. Mills até chegar ao mestre Gilberto Dupas, ex Diretor do Departamento de Análise de Conjuntura Internacional da USP (sem esquecer os trabalhos de Eduardo Giannetti da Fonseca e do professor Hélio Jaguaribe, ex-MIT), é possível descobrir com clareza [ou mais clareza] as dificuldades que residem na administração da coisa pública. Quem está fora, como disse o professor Delfim, pensa que é fácil. Mas não é. No caso brasileiro, o Povo, dada a sua exclusão entendeu isso pelo subconsciente. A massa entende que há uma enorme tensão entre o Público e o Privado e que há entre esses atores um jogo de interesses de elites, que ele, Povo, não se beneficia em nada. Por isso, não há mais espaço para o discurso derramado, concitando as massas para a execração de quem está no comando. Os menos favorecidos sabem que hoje está muito melhor que antes. Doutor Delfim assim afirmou.