terça-feira, 29 de março de 2011

A pobreza dos ricos

(Artigo do Prof. Dr.  Cristovam Buarque)

Em nenhum outro país os ricos demonstraram mais ostentação que no Brasil. Apesar disso, os brasileiros ricos são pobres.
São pobres porque compram sofisticados automóveis importados, com todos os exagerados equipamentos da modernidade, mas ficam horas engarrafados ao lado dos ônibus de subúrbio. E, às vezes, são assaltados, seqüestrados ou mortos nos sinais de trânsito. Presenteiam belos carros a seus filhos e não voltam a dormir tranqüilos enquanto eles não chegam em casa. Pagam fortunas para construir modernas mansões, desenhadas por arquitetos de renome, e são obrigados a escondê-las atrás de muralhas, como se vivessem nos tempos dos castelos medievais, dependendo de guardas que se revezam em turnos.
Os ricos brasileiros usufruem privadamente tudo o que a riqueza lhes oferece, mas vivem encalacrados na pobreza social.
Na sexta-feira, saem de noite para jantar em restaurantes tão caros que os ricos da Europa não conseguiriam freqüentar, mas perdem o apetite diante da pobreza que ali por perto arregala os olhos pedindo um pouco de pão; ou são obrigados a restaurantes fechados, cercados e protegidos por policiais privados. Quando terminam de comer escondidos, são obrigados a tomar o carro à porta, trazido por um manobrista, sem o prazer de caminhar pela rua, ir a um cinema ou teatro, depois continuar até um bar para conversar sobre o que viram.
Mesmo assim, não é raro que o pobre rico seja assaltado antes de terminar o jantar, ou depois, na estrada a caminho de casa. Felizmente isso nem sempre acontece, mas certamente, a viagem é um susto durante todo o caminho. E, às vezes, o sobressalto continua, mesmo dentro de casa.
Os ricos brasileiros são pobres de tanto medo. Por mais riquezas que acumulem no presente, são pobres na falta de segurança para usufruir o patrimônio no futuro. E vivem no susto permanente diante das incertezas em que os filhos crescerão. Os ricos brasileiros continuam pobres de tanto gastar dinheiro apenas para corrigir os desacertos criados pela desigualdade que suas riquezas provocam: em insegurança e ineficiência.
No lugar de usufruir tudo aquilo com que gastam, uma parte considerável do dinheiro nada adquire, serve apenas para evitar perdas.  Por causa da pobreza ao redor, os brasileiros ricos vivem um paradoxo: para ficarem mais ricos têm de perder dinheiro, gastando cada vez mais apenas para se proteger da realidade hostil e ineficiente.
Quando viajam ao exterior, os ricos sabem que no hotel onde se hospedarão serão vistos como assassinos de crianças na Candelária, destruidores da Floresta Amazônica, usurpadores da maior concentração de renda do planeta, portadores de malária, de dengue e de verminoses. São ricos empobrecidos pela vergonha que sentem ao serem vistos pelos olhos estrangeiros.
Na verdade, a maior pobreza dos ricos brasileiros está na incapacidade de verem a riqueza que há nos pobres. Foi esta pobreza de visão que impediu os ricos brasileiros de perceberem, cem anos atrás, a riqueza que havia nos braços dos escravos libertos se lhes fosse dado direito de trabalhar a imensa quantidade de terra ociosa de que o país dispunha. Se tivesse percebido essa riqueza e libertado a terra junto com os escravos, os ricos brasileiros teriam abolido a pobreza que os acompanha ao longo de mais de um século. Se os latifúndios tivessem sido colocados à disposição dos braços dos ex-escravos, a riqueza criada teria chegado aos ricos de hoje, que viveriam em cidades sem o peso da imigração descontrolada e com uma população sem miséria.
A pobreza de visão dos ricos impediu também de verem a riqueza que há na cabeça de um povo educado. Ao longo de toda a nossa história, os nossos ricos abandonaram a educação do povo, desviaram os recursos para criar a riqueza que seria só deles, e ficaram pobres: contratam trabalhadores com baixa produtividade, investem em modernos equipamentos e não encontram quem os saiba manejar, vivem rodeados de compatriotas que não sabem ler o mundo ao redor, não sabem mudar o mundo, não sabem construir um novo país que beneficie a todos. Muito mais ricos seriam os ricos se vivessem em uma sociedade onde todos fossem educados.
Para poderem usar os seus caros automóveis, os ricos construíram viadutos com dinheiro de colocar água e esgoto nas cidades, achando que, ao comprar água mineral, se protegiam das doenças dos pobres.  Esqueceram-se de que precisam desses pobres e não podem contar com eles todos os dias e com toda saúde, porque eles (os pobres) vivem sem água e sem esgoto. Montam modernos hospitais, mas tem dificuldades em evitar infecções porque os pobres trazem de casa os germes que os contaminam.
Com a pobreza de achar que poderiam ficar ricos sozinhos, construíram um país doente e vivem no meio da doença. Há um grave quadro de pobreza entre os ricos brasileiros. E esta pobreza é tão grave que a maior parte deles não percebe. Por isso a pobreza de espírito tem sido o maior inspirador das decisões das decisões governamentais das pobres ricas elites brasileiras.Se percebessem a riqueza potencial que há nos braços e nos cérebros dos pobres, os ricos brasileiros poderiam reorientar o modelo de desenvolvimento em direção aos interesses de nossas massas populares.
Liberariam a terra para os trabalhadores rurais, realizariam um programa de construção de casas e implantação de redes de água e esgoto, contratariam centenas de milhares de professores e colocariam o povo para produzir para o próprio povo. Esta seria uma decisão que enriqueceria o Brasil inteiro: os pobres que sairiam da pobreza e os ricos que sairiam da vergonha, da insegurança e da insensatez. Mas isso é esperar demais. Os ricos são tão pobres que não percebem a triste pobreza em que usufruem suas malditas riquezas.

*pesquisa realizada Prof. Dirlêi A Bonfim, Cursos ADM/CONTÁBEIS/FAINOR.*
Cristovam Buarque, professor da UNB, é autor do livro "A desordem do progresso".(Jornal O Globo, Opinião, pág. 7, 12/02/2001).

terça-feira, 22 de março de 2011

COLUNA DO PEPÊ

Paulo Pires
Blog de Contábeis - Uesb
                David Weinberger, notável professor do Curso de Direito da Harvard University, no capítulo 3 [página 47] da obra A Desordem Digital [Elsevier Editora Ltda., 2007] faz objetiva menção à Biblioteca-filial da Universidade de Nova Iorque situada em Fortieth Street, Manhattan.   Afirma o professor que Melvil Dewey, pioneiro na criação e publicação de um esquema de organização para bibliotecas, posteriormente adotado pelo mundo a fora, depois da sua enorme contribuição, passou a ser motivo de chacota em alguns espaços da vida acadêmica.  A contribuição do senhor Dewey dada a natureza do seu pioneirismo, mesmo merecedora de críticas em tempos atuais, deveria, a nosso ver, ser observada com mais respeito. Dewey (não consegui associar seu nome ao do famoso pedagogo e filósofo norte americano John Dewey,  orientador e amigo do professor Anísio Teixeira). Independentemente do parentesco ou não, só pelo esforço que empreendeu penso ser merecedor de louvores por parte de todos que tiveram nas Bibliotecas o ambiente propício para o exercício e busca da exegese intelectual. 
            Ocorre que alguns seres humanos, em nome da alegria superficial que adquirem por intermédio de novo conhecimento, ou mesmo por se “acharem” voluptuosas intelectualmente pela aquisição de um suposto saber moderno e mais ainda, agindo sob o impulso de uma ansiedade descontrolada,  quase sempre movida pela mass media, essas pessoas à medida que se sentem possuidoras de novos saberes, avaliam o conjunto dos saberes anteriores como algo ultrapassado e, portanto, inválido. É lastimável isso.
            O senhor Melvil Dewey, pelo senso de organização que deu às Bibliotecas foi muito importante e merece que seu empenho e contribuição ao mundo dos livros sejam restaurados imediatamente.
            O Curso de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a partir do ano cristão de 2011, tem à sua disposição um Blog dirigido para questões relacionadas ao seu Universo Acadêmico e outros aspectos que englobem as múltiplas complexidades da teia social. Objetivamente o Blog se destina a abordagens nos campos Pedagógicos, Didáticos, Técnicos, Científicos, Sociais, Profissionais e Ambientais da Vida Contábil. Mas isso não impede cruzamentos interdisciplinares com outras ciências, mormente as que se situam no território dos Negócios (Economia, Finanças, Administração e Direito).
Por se tratar de um instrumento construído pela iniciativa de Discentes orientados pelo professor Flávio José Dantas da Silva, o Blog está aberto a todos os demais membros da Vida Acadêmica Uesbiana extensivo também a Acadêmicos (alunos, professores, pesquisadores e extensionistas) de outras Instituições, cidades e regiões. Os colegas que contribuíram com a feitura e alimentação do Blog serão lembrados pelos pósteros como pioneiros de uma iniciativa digna dos mais elevados elogios. E jamais terão no futuro críticas ao Blog, só porque surgiram novas tecnologias. Cada tempo tem seu tempo.
A partir dessa iniciativa, o Curso de Ciências Contábeis da Uesb demarca seu território e dá partida para que se possa criar uma  Identidade para os seus futuros formandos, a qual vai distinguir o Acadêmico Uesbiano.
Toda Instituição Acadêmica de Ensino Superior que pretenda moldar um perfil próprio para os seus membros, deve buscar e primar pela construção uniforme de um aparato intelectual e social de excelência que a eles será dado. Um Blog Acadêmico é um instrumento que faz interação integral do Colegiado com a Congregação de Professores, Corpo Discente e Setor Administrativo, processando ideias, críticas, comentários, cultura acadêmica e profissional, cultura histórica, literária, política (apartidária), ambiental e todos os conhecimentos que justificarem e colaborarem para interpretações local, regional e global. 
Neste sentido, o BLOG DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UESB é um território Geo-Espacial, onde nossa História, nossa Cultura, nossos interesses Acadêmico-Profissionais estarão plena e diariamente alimentados com matérias sobre a atualidade da Profissão Contábil. Conforme exposição do Prof. Flávio e dos Discentes que o criaram, nele será possível encontrar Leis, Resoluções, Portarias, Instruções, Crônicas, Poesia, Cultura, Publicações e informes considerados seminais ou fundamentais ao Exercício da Vida Acadêmica do profissional atual ou para a vida do futuro Contador. Basta acessar: clickcontabeis.blogspot.com

quinta-feira, 17 de março de 2011

Belluzzo: Obama não leu Roosevelt

Só se deve ter “medo do próprio medo”, ensinava o presidente do New Deal.
Eleito sob a esperança de mudança (chance, change), Barack Obama governa sob o signo do medo e da omissão. Imobilizado diante da fúria conservadora, o presidente dobrou os joelhos e aceitou ignorar o discurso inaugural de Franklin D. Roosevelt, em 1933, que conclamou o povo americano, então atormentado por um desemprego de 23%, a só “ter medo do próprio medo”.
Os medos de Obama o aconselharam a propor soluções de pé quebrado para as questões que afligem a maioria da sociedade americana. Entre tantos problemas, na linha de frente figuram a regulamentação dos mercados financeiros, o tratamento dos 11 milhões de mutuários afogados em dívidas hipotecárias que ultrapassam o valor dos imóveis adquiridos, os métodos violentos utilizados pelos credores para recuperar as casas e, finalmente, a batata quente do déficit fiscal e da dívida pública do governo federal, dos estados e dos municípios.
Em entrevista concedida ao jornal inglês The Independent, o ator Matt Damon disparou contra o presidente: “Acho que ele está completamente submetido a Wall Street. A economia tem problemas enormes. Ainda temos os bancos que são grandes demais para falir. Eles estão ainda maiores e fazendo mais dinheiro do que nunca. Desemprego a 10%? É terrível”.
Damon, vencedor do Oscar de 2011 e ativista liberal, empenhou seu prestígio hollywoodiano na campanha presidencial de Obama. Não foram poucas as personalidades que entraram de corpo e alma no movimento que alçou o senador por Michigan à Presidência dos Estados Unidos da América. Estão quase todos tão decepcionados quanto os devedores desempregados, expulsos de suas casas, e obrigados a dormir, comer e sobreviver nos automóveis que escaparam à sanha recuperadora dos banqueiros.
É ingênuo imaginar que as omissões e recuos de Obama são apenas produto de uma personalidade frágil. A explicação é fácil demais para ser verdadeira. As vacilações do presidente exprimem, na verdade, o enfraquecimento das bases sociais do Partido Democrata. A desindustrialização promovida pela “deslocalização” da grande empresa suscitou não só a destruição em massa dos empregos nas fábricas, como também reduziu as oportunidades de ocupação nos serviços ligados ao dinamismo industrial. Aumentou o número de empregados precários em serviços de baixa remuneração. A queda dos rendimentos dos 90% inferiores da escala de distribuição de renda nos últimos 30 anos – o que inclui o declínio da classe média americana – não é novidade para ninguém. A desorientação do Partido Democrata não é um fenômeno recente. Há que lembrar o papel de Bill Clinton e de seus colaboradores, Lawrence Summers e Thimoty Geithner, na “batalha” pela desregulamentação financeira que culminou, em 1999, com a promulgação da Lei Gramm-Leach-Bliley. A lei abriu as porteiras para as façanhas dos espertalhões e sabidos do mercado financeiro, legitimados pelo esoterismo de modelos pseudocientíficos de precificação de riscos, sob o manto protetor das agências de avaliação da qualidade dos ativos.
A perda de substância programática do Partido Democrata deu azo à crescente agressividade dos conservadores, que, entre outras peripécias, se sentiram encorajados a aumentar os decibéis da gritaria contra os déficits e a dívida pública. Déficits e dívida gerados em grande medida, diga-se, pelo socorro do governo aos financiadores das campanhas eleitorais de muitos congressistas.



Enquanto clama contra os gastos do governo, a bancada republicana, majoritária, enfiou goela abaixo do presidente a manutenção do presente tributário aos ricos, prorrogando o mimo concedido por George W. Bush aos endinheirados. Mas, na sociedade encantada pelos mitos da “utopia realizada” e “da terra das oportunidades”, o aumento indecente da desigualdade e a prática desavergonhada do favorecimento aos ricos e às grandes empresas e bancos explodem na cara dos descarados.
Os movimentos de reação ao tratamento desigual e à supressão de direitos, que começaram com as manifestações dos funcionários públicos de Wisconsin, estão a se disseminar por outros estados. A eles se juntam os protestos dos cidadãos americanos expulsos de suas casas pela truculência dos credores, amparados numa lei de falência que os favorece. Multiplicam-se os grupos dispostos a defender os prejudicados, o que ensejou uma proclamação de promotores (Attorneys Generals) que exigem condições mais equânimes na negociação entre credores e devedores.
O cineasta Michael Moore arengou no dia 5 de março para os revoltosos de Wisconsin: “Os Estados Unidos não estão quebrados. O país- está inundado de dinheiro. O problema é que a grana não está no bolso de vocês. Ela foi transferida, no maior assalto da história, dos bolsos dos trabalhadores e consumidores para os bancos e para os portfólios dos super-ricos. Hoje, apenas 400 americanos possuem mais riqueza do que a soma do que é possuído por metade da população”. Strike!
PS do Viomundo: O professor cometeu um pequeno engano. Obama é de Illinois, não de Michigan, mas é tudo ali pertinho.
Fonte: 
14 de março de 2011 às 9:07h


Outra notável contribuição do Coordenador do Colegiado de Contábeis da UESB, Profº Paulo Pires.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Paul Krugman: Outro inside Job

Contem-me entre aqueles que estão felizes em ver o documentário “Inside Job” ganhar um Oscar. O filme nos lembrou que a crise financeira de 2008, cujos efeitos ainda estão contaminando as vidas de milhões  de americanos, não apenas aconteceu — se tornou possível pelo mau comportamento de banqueiros, reguladores e, sim, economistas.
O que o filme não apontou, no entanto, é que a crise gerou uma série completamente nova de abusos, muitos dos quais tão ilegais quanto imorais. E figuras políticas importantes estão, finalmente, mostrando seu ultraje. Infelizmente, este ultraje é dirigido não contra os abusos dos bancos, mas contra aqueles que estão tentando cobrar os bancos pelos abusos.
O ponto imediato de conflito é um acordo proposto entre os procuradores-gerais estaduais e a indústria dos financiamentos imobiliários. Aquele acordo é “extorsão”, diz o senador Richard Shelby do Alabama. O dinheiro que os bancos seriam forçados a separar para o refinanciamento das hipotecas seria “extorquido”, declara o The Wall Street Journal. E os próprios banqueiros dizem que qualquer ação contra eles colocaria a recuperação econômica em risco.
O que vai na direção de confirmar que os ricos são diferentes de você e de mim: quando eles violam a lei, são os promotores de Justiça que acabam em julgamento.
Para ter uma ideia sobre do que estamos falando, olhe a denúncia feita pelo procurador-geral de Nevada contra o Bank of America. A denúncia acusa o banco de atrair famílias para seu programa de refinanciamento [de hipotecas] — supostamente para ajudá-las a manter suas casas — sob falsas promessas; de dar informações falsas sobre as condições do programa (por exemplo, ao dizer às famílias que elas deveriam parar de pagar as prestações antes do refinanciamento); de segurar as famílias com promessas de ação, para em seguida “mandar notícias de despejo, marcar a data da venda das casas e mesmo vender casas de pessoas que esperavam pelo refinanciamento”; e, em geral, de explorar o programa com o objetivo de enriquecer às custas das famílias.
O resultado final, de acordo com a denúncia, é que “muitos consumidores de Nevada continuaram a pagar as prestações de hipotecas com as quais não podiam arcar, arruinando suas poupanças, seus fundos de aposentadoria ou a reserva que cuidaria da educação dos filhos. Adicionalmente, devido às garantias enganosas do Bank of America, os consumidores perderam oportunidades de venda ou outras chances de mitigar suas perdas. E esperaram ansiosamente, mês após mês, ligando para o Bank of America e submetendo documentos várias vezes, sem saber se e quando perderiam suas casas”.
Ainda assim, essas coisas só aconteceram para os “losers” que não conseguiram pagar as prestações da hipoteca, certo? Errado. Recentemente, Dana Milbank, colunista do Washington Post, escreveu sobre sua experiência: um refinanciamento rotineiro com o Citibank se tornou um pesadelo, com oferta de taxas [de juros] enganosas, cobrança imprópria e contas bancárias congeladas. E todas os indícios sugerem que a experiência do Sr. Milbank não foi incomum.
Notem, aliás, que não estamos falando das práticas de operadores improvisados; estamos falando de duas das três maiores companhias financeiras, com cerca de 2 trilhões de dólares cada em bens. Ainda assim, políticos gostariam que você acreditasse que qualquer tentativa de fazer com que estes gigantes façam uma modesta restituição é “extorsão”. A única questão real é se o acordo proposto deixa os bancos escaparem com punição muito leve.
E quanto ao argumento de que fazer demandas ao banco colocaria em risco a recuperação econômica? Há muito a ser dito sobre este argumento, mas nada de bom. Mas deixem-me enfatizar dois pontos.
Primeiro, o acordo proposto apenas prevê que sejam aprovados refinanciamentos que produzam “valor atual” maior que o que resultaria do despejo e leilão [dos imóveis] — ou seja, que resultem em acordo que seja do interesse tanto dos donos de imóveis quanto dos bancos. A verdade ultrajante é que em muitos casos os bancos estão bloqueando acordos  mutuamente benéficos, para que possam continuar extraindo taxas [dos compradores]. Como acabar com este assalto pode ser ruim para a economia?
Segundo, o grande obstáculo para a recuperação não é a condição financeira dos grandes bancos, que foram salvos uma vez e estão agora lucrando com a percepção ampla de que serão salvos novamente se alguma coisa der errado. O grande obstáculo, em vez disso, é a grande dívida dos domicílios combinada com a paralisia do mercado imobiliário. Forçar os bancos a acabar com as dívidas de hipotecas — em vez de amarrar as famílias para extrair delas mais alguns dólares — ajudaria, não prejudicaria a economia.
Nos dias e semanas que vem aí, veremos políticos pró-banqueiros denunciar o acordo proposto, alegando que estão apenas defendendo o cumprimento das leis. Mas o que eles estão defendendo na verdade é exatamente o oposto — um sistema no qual apenas os pequenos devem obedecer a lei, enquanto os ricos, especialmente os banqueiros, podem enganar e fraudar sem consequências.
PS do Viomundo: Para o Krugman, sempre cauteloso, escrever isso, é sinal de que as coisas ainda vão ferver nos Estados Unidos, como identificou muito bem o Michael Moore neste discurso feito em Wisconsin. O ataque dos de cima agora é claramente contra a classe média americana, enquanto Obama, perdido, assiste a tudo, buscando algum tipo de acordo com os republicanos. Moore, sem citar Obama no discurso, se diverte com a falta de espinha dos democratas (aliás, o humor e o sarcasmo tem sido poderosas ferramentas de mobilização por lá).

Published: March 13, 2011
Esta matéria é fruto da contribuição altamente positiva e pertinente do Coordenador do Colegiado de Ciências Contábeis da UESB, Profº Paulo Pires.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A Contabilidade é a Língua dos Negócios

Autor: Antoninho Marmo Trevisan

A frase do título deste texto foi dita por Warren Buffett, em resposta à filha de um de seus parceiros nos negócios, com dúvidas sobre qual curso ela deveria fazer. Buffett deve saber o que está falando, afinal, é o investidor mais bem sucedido em todo mundo, um dos poucos que se manteve incólume na crise em que o sistema financeiro mundial submergiu no final do ano passado.

Crise é sempre crise e, por mais que se fale nas oportunidades que esses momentos possibilitam, diante dela a gente treme. Como tantos já disseram a economia não é uma ciência exata e, por isso mesmo, nem sei bem ao certo porque tanta gente insiste em fazer previsões econômicas. A única certeza sobre a qual se pode tirar conclusões diz respeito aos números da economia. E, nesse caso, se a ela é incerta, a contabilidade não mente. Se um investidor quiser conhecer uma empresa, o caminho mais curto é analisar o seu balanço, independentemente do contexto econômico em que se encontra o seu setor, o seu país, o mundo.

Embora a tendência seja ser pessimista quando o calo aperta nos momentos de crise, basta olhar para as informações contábeis para se obter uma visão realista sobre o futuro. Isso também serve para os períodos de euforia: um gestor eficiente será sempre realista e prudente no seu planejamento estratégico ou nas suas decisões de investimento.

A verdade é que, com crise ou sem crise, do ponto de vista da gestão, está ocorrendo uma enorme revolução na maneira de gerir as corporações. Sem dúvida alguma, a contabilidade faz parte disso. Nunca antes na história o contador teve tanto prestígio dentro de uma corporação. Na hora de tomar uma decisão, o bom gestor sempre terá ao seu lado um contabilista com informações saídas do forno.

E é verdade também que o Brasil tem a vantagem de ser um país de empreendedores. Diferentemente do outros povos, o brasileiro é capaz de fazer negócios das formas mais criativas. Além disso, é fato que o nosso mercado interno se ampliou, incorporando fatias da população que social e economicamente estavam apartadas do consumo.

É certo que vivemos atualmente momentos de grave instabilidade e encaramos problemas difíceis. Porém, a estrutura da economia brasileira é hoje muito mais sólida do que no passado. Dispomos de recursos e de alternativas, contamos com instituições estáveis e consolidadas e a nossa democracia tem se fortalecido a cada nova eleição.

No entanto, é preciso que empresas e agentes de mercado tenham em mente que a gestão responsável é essencial para superar uma conjuntura adversa. A lógica do padre Luca Pacioli, considerado o pai da contabilidade, está voltando. Com ela, resgata-se a visão de que uma empresa não pode viver de fantasia, mas precisa ser gerida a partir da verdade dos números, das referências do débito e do crédito, da aplicação e da origem do recurso.

Para emergir nesse novo contexto mundial, pós-crise financeira, o melhor é estar muito bem acompanhado. Mais do que nunca, é prudente valorizar os que oferecem dinamismo, criatividade, pronto atendimento e, sobretudo, solidariedade profissional.


Fonte:  http://www.administradores.com.br/informe-se/informativo/contabilidade-e-a-lingua-dos-negocios/21585/

Antoninho Marmo Trevisan é presidente da Trevisan Outsourcing, Escola de Negócios e Consultoria, do Conselho Consultivo da BDO Trevisan, da Academia Brasileira de Ciências Contábeis e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Lucros devem crescer com a adoção das normas internacionais de contabilidade

De acordo com o presidente do CRC SP Domingos Orestes Chiomento novas regras contábeis trazem resultados positivos aos balanços empresariais.
As empresas brasileiras de capital aberto, que vivem um ótimo momento operacional, contarão, no decorrer deste ano, com mais um fator positivo. Até o fim de março, devido à segunda fase de adoção das Normas Internacionais de Contabilidade, também conhecidas como IFRS (International Financial Reporting Standards), os resultados financeiros que serão apresentados por essas empresas contarão com um elemento suplementar que impulsionará o lucro das companhias de capital aberto.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC SP), Domingos Orestes Chiomento, não apenas os lucros empresariais devem aumentar com a adoção das novas normas contábeis. “As notas explicativas que acompanham os balanços também crescerão, uma vez que, ao apresentar o balanço completo, a Norma Internacional será bem mais exigente no que diz respeito à divulgação de dados”, explica o presidente.
Segundo Chiomento, os lucros aumentam significativamente por causa do CPC 15, que rege os registros e as divulgações pertinentes às demonstrações contábeis. A norma disciplina que as transações de combinação de negócios devem ser contabilizadas considerando-se a essência econômica, independentemente da forma elegida para concretizá-la. “Essa regra traz um efeito extremamente positivo para os balanços, já que trata do que é denominado pelos profissionais da Contabilidade de ‘combinações de negócios’. A norma inclui aquisições, fusões, cisões e incorporações e traz o fim da amortização do ágio, gerada nas aquisições. Como esse abatimento, que causava uma despesa extra na demonstração de resultados deixa de existir, automaticamente o lucro das empresas aumenta, de forma gradativa”, afirma o presidente do CRC SP.
As Normas Internacionais de Contabilidade colocarão os balanços das empresas brasileiras no mesmo padrão contábil utilizado em cerca de cem países. “Este processo exigirá mudanças na forma de agir e pensar dos Contadores. Por enquanto, as empresas de capital aberto, por conta das exigências legais, estão caminhando à frente nesse processo. Logo atrás virão as instituições financeiras, seguidas de pequenas e médias empresas”, relata Domingos Chiomento, enfatizando que, a partir de agora os balanços beneficiarão os acionistas, uma vez que haverá mais informação de interesse dos investidores. “Os valores estarão mais próximos da realidade”, pontua.
Este será um ano decisivo para a implantação das Normas Internacionais de Contabilidade que estabelecem regras de conduta profissional e procedimentos técnicos para os contadores. “Esse novo modelo representa confiança e credibilidade por parte de quem utilizará as demonstrações financeiras, como os bancos, órgãos governamentais, empresas de capital aberto e o mercado como um todo”, finaliza o presidente do CRC SP.


terça-feira, 1 de março de 2011

HORIZONTES DA CONTABILIDADE E O FUTURO DO PROFISSIONAL CONTÁBIL

Como ciência social, a contabilidade tem evoluído de forma a acompanhar as mudanças políticas, econômicas e sociais que afetam a sociedade e, em consequência, modificam as suas necessidades informacionais.
Estudos realizados por Schmidt (2000), acerca da origem e evolução da contabilidade, apontam que sistemas contábeis têm sido utilizados desde a pré-história.
Conforme Iudíbus et all (2005), em função da evolução dos tempos e das organizações e suas demandas, levaram a contabilidade a se transformar, passando de um engenhoso sistema de escrituração e elaboração de demonstrações contábeis simplificadas, para um complexo sistema de informação e avaliação, cujo objetivo central é satisfazer à necessidade informacional dos usuários internos e externos à entidade.
Cabe ao contador empreender ações que permitam que a profissão alcance esse novo patamar, de forma que a contabilidade seja vista como um elemento-chave na gestão das organizações.
Mohamed e Lashine (2003) apontam uma série de atributos requeridos do profissional de contabilidade pelo “mercado global”, como:
 Habilidades de Comunicação – relacionadas à capacidade de comunicar-se em uma liguagem global comum, bem como às habilidades de negociação e de trabalho em grupo;
 Habilidades computacionais – uso das tecnologias disponíveis, tanto no processamento quanto na comunicação de informações;
 Habilidades analíticas – possuir capacidades de realizar questionamentos pertinentes, de coletar informações completas e acuradas, de reconhecer a importância da informação e de suas implicações, e de explicar, através de lógica e da razão, as relações entre diferentes objetos, eventos, indivíduos ou metodologias;
 Habilidades intelectuais – poder de identificar e antecipar os problemas e/ou oportunidades e de encontrar possíveis formas de solucioná-los e/ou aproveitá-los;
 Habilidades multidisciplinares e interdisciplinares – atinentes a outras áreas do conhecimento como: finanças, tecnologia da informação, economia, marketing e a compreensão das forças econômicas, sociais, culturais e psicológicas que afetam as organizações;
 Conhecimento de assuntos globais – saber de temas internacionais, como por exemplo, das regulações relacionadas à importação, exportação, etc.;
 Qualidades pessoais – como responsabilidades ética e individual, autoestima, sociabilidade, integridade, habilidades interpessoais, capacidades de delegar tarefas, de motivar e influenciar os demais, de resolver conflitos, de entender a organização e de resolver dilemas éticos;
 Pensamento crítico – capacidades de buscar, processar e aplicar as habilidades adquiridas na identificação e solução de problemas.


Texto Adaptado pelo Prof. Flávio Dantas, a partir da Unidade 4 do livro Estudando Teoria da Contabilidade – Diversos autores – organizado por José Francisco Ribeiro Filho e outros.