quinta-feira, 7 de abril de 2011

ACADEMIA DO PAPO

Paulo Pires

Por que um e não outro?

            A vida é uma sucessão de acontecimentos ambíguos, múltiplos, dolorosos e deliciosos. Talvez o ser humano atinja seu melhor momento, seu ápice, quando se  dá conta com dignidade e humildade que se os seus sonhos [ou delírios] nutridos e acumulados durante anos não foram atingidos é porque a ele foi ignorada a importância que ele mesmo, sem perceber como os outros lhe vêem, se dá.
Os acontecimentos são muitos, repito. E para quem não tem muitas ambições, essa sucessão de fatos geralmente chega a ser prazerosa. O mesmo não ocorre para os que vivem obcecados por determinados fins. Neste caso a coisa não é tão adocicada. O mais grave é que, como disse um velho escritor francês, o essencial é invisível aos olhos. A maioria por desconhecer essa advertência, talvez sofra mais do que o destino lhe reservou. Dizia Drummond que os gregos inventaram o destino e nós, brasileiros, inventamos a superstição. Em um caso ou em outro, o que sabemos mesmo é pouco. “Eu só sei que nada sei” dizia o filósofo Sócrates. Ora, se o famoso filósofo dizia não saber nada, imagine aí este pobre escriba. A realidade é que não sabemos quase nada. E agora com a velocidade engendrada pelo mundo virtual, a dialética humana está quase que fora de controle. O diálogo do homem com o homem e com a vida pública e privada tornou-se um cipoal de teses e antíteses que ninguém de sã consciência sabe aproximar-se da realidade para realizar sua síntese.
O irlandês da anedota é quem está certo. A realidade é uma ilusão provocada pela escassez etílica. Os homens de negócios querem se mostrar competentes, sóbrios, organizados e informados.  Nosotros, demais atores, tentamos traduzir as realidades atuais e antigas em pedagogias e didáticas que mais complicam do que ajudam no esclarecimento de relações causais entre o que ocorreu com o que está ocorrendo.  Por incrível que pareça explicar o que ocorreu com o que está acontecendo exige outra solução visto que o de agora não aceita mais o desfecho que fora dado para o fato anterior. Como dizia meu velho pai: “Com mil e seiscentos diabos!”. O que fazer?
Calma, muita calma nessa hora. Na entrevista concedida pelo ex-ministro Delfim Neto, Programa Canal Livre, TV Bandeirantes (03/04/11) o experiente homem público e professor emérito da Universidade de São Paulo fez uma série de considerações sobre a realidade brasileira.  De quebra acrescentou breves, mas interessante exposição sobre o que está se passando em alguns lugares do mundo (alhures).
O que impressionou na entrevista, além da inteligência de doutor Delfim, foi a predisposição embutida nas perguntas dos jornalistas (Fernando Mitre, Antônio Teles e Joelmir Betting) para colocar “em cheque” todo conjunto de medidas do governo brasileiro em relação à nossa realidade. É claro que doutor Delfim, por ter mais experiência e conhecimento que os seus interlocutores, fez ver aos três jornalistas que a coisa não é como a gente quer. E disse mais: As medidas em sua maioria estão corretas. Os três entrevistadores ficaram perplexos.
Tenho cá prá mim, nas aflições contidas, que o pessoal do jornalismo não anda interpretando o mundo como deveria. Em minha avaliação, a maioria dos nossos jornalistas não leu ou não está lendo o que pensam os grandes pesquisadores dos melhores Centros e Institutos de Ciências Sociais.
Tenho essa sensação (sinto isso) que nossos jornalistas, embriagados pela boa técnica de sua profissão, esqueceram de avançar na leitura de outras fontes e deixaram de lado a reflexão para mergulharem espetacularmente na informação. Mas a vida não é feita só de informação, até porque informação pura, descontextualizada, não é conhecimento, é apenas um dado. Dados sem comprovação e aferição analítica são montanhas de tijolos sem destinação para construção de uma boa casa [o conhecimento].
Digo isso porque desde o surgimento de Elite de Poder do sociólogo americano Charles W. Mills até chegar ao mestre Gilberto Dupas, ex Diretor do Departamento de Análise de Conjuntura Internacional da USP (sem esquecer os trabalhos de Eduardo Giannetti da Fonseca e do professor Hélio Jaguaribe, ex-MIT), é possível descobrir com clareza [ou mais clareza] as dificuldades que residem na administração da coisa pública. Quem está fora, como disse o professor Delfim, pensa que é fácil. Mas não é. No caso brasileiro, o Povo, dada a sua exclusão entendeu isso pelo subconsciente. A massa entende que há uma enorme tensão entre o Público e o Privado e que há entre esses atores um jogo de interesses de elites, que ele, Povo, não se beneficia em nada. Por isso, não há mais espaço para o discurso derramado, concitando as massas para a execração de quem está no comando. Os menos favorecidos sabem que hoje está muito melhor que antes. Doutor Delfim assim afirmou.

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