Uma Interface
entre a Teoria da Decisão e a Contabilidade
Francisco Luciano de Souza
Mestrando em
Controladoria e Contabilidade da FEA/USP
Resumo
A Teoria da Decisão apresenta um modelo logicamente estruturado
que visa diminuir as incertezas associadas ao processo decisório. A melhor
decisão é tomada quando a Função Utilidade Esperada é maximizada. Para
maximizar este valor, define-se a probabilidade de ocorrência de cada estado da
natureza. Se os tomadores de decisão são considerados racionais, os princípios
da Teoria da Decisão são fortalecidos por este comportamento.
As decisões financeiras podem ser
organizadas segundo a ótica da Teoria da Decisão. A Teoria da Decisão não sana
os problemas de incerteza peculiares às decisões financeiras, contudo, é
indubitavelmente uma ferramenta eficaz para organizar as informações de modo
lógico e útil.
INTRODUÇÃO
Diversos autores, entre os quais
KAUFMAN (1970), GUERREIRO (1989) e HENDRIKSEN (1999), destacaram a importância
de um sistema lógico estruturado para a tomada de decisão. Quando um gestor age
motivado pela intuição, mesmo que os resultados decorrentes desta ação sejam os
mais favoráveis, a organização não poderá legitimar este procedimento como o
mais indicado. A verdade é que não se pode aprender com o êxito se este foi
conseguido sem a observância de passos lógicos bem estruturados.
A Teoria da Decisão contribui, de
forma muito significativa, para a construção de um raciocínio lógico que
resultará em uma decisão. Desta forma, pode-se estabelecer alguns procedimentos
padronizados que não apontam precisamente para uma única decisão, porém tornam
mais objetivo o processo de tomada de decisão.
A seguir, abordaremos alguns
aspectos a respeito do valor da informação, sua utilidade, bem como suas características
primordiais. Caracterizada a informação como input do processo de tomada
de decisão, analisaremos o processo decisório propriamente dito, suas
premissas, axiomas e limitações. Por último, abordaremos acerca da
implementação da Teoria da Decisão no processo de tomada de decisões de caráter
financeiro, além de explicitar a interface que esta teoria revela com a
Contabilidade.
O VALOR DA INFORMAÇÃO
Adam Smith teceu algumas
considerações sobre do conceito de valor. Segundo ele, há duas naturezas
distintas do valor: o valor de troca e o valor de uso. O primeiro refere-se ao
montante que se pode auferir com a comercialização do bem ou serviço, enquanto
que o segundo, é atinente a utilidade que este bem ou serviço tem para um
agente em especial. Desta forma, a batuta do maestro pode não ter um
significativo valor de troca, mas, seguramente tem um valor de uso expressivo
para ele. Por outro lado, um quadro de Velazquez terá um imenso valor de troca,
porém, se seu proprietário for cego, terá provavelmente pouco valor de uso.
Da mesma forma, a informação tem um
valor peculiar para quem a possui. A divulgação de relatórios com indicadores
macroeconômicos poderá orientar a implementação de uma dada política no
contexto de uma entidade. Entretanto, uma outra companhia poderá avaliar que
seu negócio é insensível à variação de tais indicadores.
Portanto, inferimos que "... o
valor esperado da informação é medido pelo aumento de valor que se poderia
esperar com a obtenção dessa informação" (HENDRIKSEN, 1999). Se uma
informação não altera a percepção que o tomador de decisões tem dos fatos,
então, pode-se prescindir de sua produção ou divulgação. Todavia, mesmo que uma
informação não altere a decisão, poderá ser significante se corroborar um ponto
de vista já assumido anteriormente.
"O
propósito da informação é capacitar uma organização a alcançar seus objetivos
pelo uso eficiente de seus recursos, isto é, homens, materiais, máquinas e
outros ativos e dinheiro. Desde que informação é também recurso, a teoria da
informação considera o problema de seu uso eficiente. Em sentido lato, a idéia
de eficiência é expressa na relação entre inputs e outputs"
(Glautier & Underdown apud GUERREIRO, 1989).
O fluxo de informações atua como uma
das variáveis da função eficiência. Desta forma, se uma informação possibilita
à entidade obter melhor resultado com o mesmo volume de recursos, então, tem-se
que a eficiência gerencial foi majorada. Todavia, observe-se que nem todo
incremento no fluxo de informações provocará uma elevação da eficiência dos
processos da organização. Se idealizássemos um fluxo infinito de informação não
tornaríamos infinita a eficiência organizacional. Ao contrário, verificaria-se
um ponto de inflexão da curva de eficiência no momento em que o fluxo de informação
fosse tão elevado a ponto de confundir e ofuscar a percepção do tomador de
decisões.
É preciso salientar que a informação
é um produto como qualquer outro, e como tal, submete-se aos preceitos da
Teoria Econômica. Outrossim, pode-se enunciar que se a oferta de informação
cresce mais do que sua demanda, então, a utilidade desta informação diminui.
"... a utilidade de um produto diminui à medida que o indivíduo acumula
quantidades maiores de produto" (HENDRIKSEN, 1999).
Um raciocínio possível é que
enquanto a função utilidade for positiva, a informação deve continuar a ser
produzida. Os adeptos da Escola Marginalista discordam desta formulação. Se a
função utilidade é positiva, porém, decrescente, então, as novas informações
incrementais têm utilidade negativa. Em outras palavras, o benefício gerado por
uma unidade incremental de informação não excede ao sacrifício relativo a esta
unidade.
Mesmo que a informação esteja
disponível gratuitamente a todos os agentes, haverá um sacrifício subjacente à
utilização desta informação. O tempo despendido para a apreciação do conteúdo
gerado é o recurso o qual a entidade terá de sacrificar para depreender os
diversos cursos de ação possíveis. Há um fator restrição, um gargalo
representado pelo tempo máximo que o agente pode dispor para apreciar as
informações atinentes a uma decisão. Se o fluxo de informações exceder a este
gargalo, então, sua geração será contraproducente.
Deseja-se encontrar o ponto de
máximo da função utilidade da informação e, com isso, implementar a decisão
mais adequada. Se há um nível acima do qual a produção de informação
incremental é inócua, então, o ponto de máximo poderá não ser alcançado. Isto
significa que embora uma empresa necessite de informação adicional para tornar
mais exata sua decisão, não poderá dispor dela, posto que a arquitetura do
sistema não permite processar mais informação.
A capacidade de geração,
distribuição, recepção, armazenamento e processamento da informação
constitui-se numa restrição natural do processo de tomada de decisão. Além
disso, associam-se a esta restrição, muitas outras variáveis ambientais que
suscitam incerteza.
Uma informação é adquirida para
reduzir as incertezas dos cenários econômicos nos quais uma decisão é tomada.
"Na verdade, como raramente tomamos decisões em condições de certeza, seus
resultados são simplesmente pontos numa distribuição de probabilidades, que
pode ou não ser conhecida" (CARVALHAL, 1981). Se uma informação
incremental não produz nem mesmo a mais tênue redução na percepção de incerteza
do tomador de decisão, então, de fato, esta informação não possui valor para
esta empresa.
Evidentemente, as informações que
antevêem eventos em um futuro muito distante são mais imprecisas do que aquelas
referentes a um futuro próximo. Assim, há um ponto no futuro em que a incerteza
associada a um dado evento é absoluta. As informações atinentes a este evento
não terão valor para a empresa, pois não serão capazes de alterar as decisões
de sua administração.
"O
futuro é sempre menos certo que o presente (e, presumivelmente, que o passado
também). Assim, cada etapa sucessiva é mais vaga, menos predizível e por isso
torna-se cada vez menos exeqüível planejar além de um certo ponto".
(CHURCHMAN, 1972).
Há
ainda um outro enfoque pelo qual se pode apreciar o valor da informação. É
preciso lembrar que a informação também é um ativo. Não obstante, sua natureza
extremamente intangível quase inviabilize sua mensuração individual, deve-se
sublinhar que se coaduna inteiramente com a definição apresentada pelo Prof.
Eliseu Martins em sua Tese de Doutorado: Contribuição à Avaliação do Ativo
Intangível (1972):
"Ativo
é o futuro resultado econômico que se espera obter de um agente".
A
informação vale, portanto, o montante equivalente ao valor presente dos fluxos
de benefícios futuros que ela gerará no processo de tomada de decisão da
entidade. Evidentemente, a mensuração desses fluxos não é tarefa fácil. Quando
uma decisão é tomada não se pode determinar, com exatidão, Qual a participação
de dada informação no processo de escolha da melhor alternativa.
Há,
entretanto, casos muito peculiares em que o valor da informação pode ser
calculado com maior precisão. Para isso, é preciso supor que uma dada decisão
foi tomada com base na apreciação de uma única informação. Desta forma, podemos
enunciar que se a empresa obteria um resultado V1 desconsiderando uma
informação adicional e, V2 tomando-a como insumo do processo decisório, então,
pode-se dizer que o valor da informação é a diferença entre V2 e V1.
Vejamos
um exemplo:
Um
administrador financeiro deseja captar recursos para financiar a ampliação das
instalações de uma termoelétrica, posto que a previsão de crise energética
ameaça comprometer seu negócio. Avaliaram-se as condições de financiamentos em
três estados da natureza (Previsão de Recessão, Previsão Moderada e Previsão de
Crescimento). O montante total do financiamento é de R$ 20 milhões. Ao cabo de
extensas análises, chegou às seguintes conclusões:
|
|
|
|
R$ milhares
|
|
Previsão de Recessão
|
Previsão Moderada
|
Previsão de Crescimento
|
Total
|
Probalidade de Ocorrência
|
50%
|
30%
|
20%
|
100%
|
Valor Total do Empréstimo +
Encargos Financeiros |
30.000
|
27.000
|
24.000
|
N/A
|
Utilidade Esperada
|
15.000
|
8.100
|
4.800
|
27.900
|
Entretanto, esta
configuração de probabilidades poderia mudar se o panorama econômico fosse
outro. O administrador pode adquirir um relatório que discorrerá sobre as novas
perspectivas para economia. Mencionará por exemplo que a expectativa de
recessão não se confirmará, que o déficit público cessará e que portanto as
variáveis serão outras que não as consideradas na análise. O quadro abaixo
compara o resultado V1 e V2 das possíveis alternativas que o administrador
vislumbraria se tivesse adquirido a informação:
|
|
|
|
R$ milhares
|
|
Previsão de Recessão
|
Previsão Moderada
|
Previsão de Crescimento
|
Total
|
Probalidade de Ocorrência
|
20%
|
30%
|
50%
|
100%
|
Valor Total do Empréstimo +
Encargos Financeiros |
30.000
|
27.000
|
24.000
|
N/A
|
Utilidade Esperada
|
6.000
|
8.100
|
12.000
|
26.100
|
Portanto,
conclui-se que o valor da informação é a diferença entre as Utilidades
Esperadas (R$ 27.900.000,00 - R$ 26.100.00,00 = R$ 1.800.000,00). Este
corresponde ao valor máximo pelo qual o administrador deveria aceitar pagar
pelo relatório.
Deve-se
ressaltar que nem sempre é possível calcular, de forma tão precisa, o valor da
informação do modo como foi feito no exemplo acima. Na maioria das vezes, as
decisões são tomadas levando-se em consideração um grande número de
informações. Uma informação pode parecer trivial em um primeiro momento, mas,
uma informação posterior pode torná-la importante. Neste caso, a conjugação das
duas informações tem mais valor do que cada informação individualmente.
Este
efeito sinérgico é constatado em muitas situações. Suponhamos que uma loja
possua uma bela estátua de bronze em sua entrada principal, e que as
informações a respeito de seu escultor são consideradas triviais. Suponha ainda
que este autor se torne muito famoso postumamente. Neste caso, a percepção do
empresário sobre a trivialidade da primeira informação se alterou
consideravelmente. Saber quem é o autor tem um valor V1; saber que ele ficou
famoso postumamente tem um valor V2; porém, saber quem é o autor e que ele
ficou famoso postumamente tem um valor V3, em que V3 > V1 + V2, já que as
duas informações conjugadas elevaram o valor econômico da estátua. O valor S =
V3 - (V2 - V1) representa a sinergia não atribuível a nenhuma das duas
informações isoladamente.
Neste
caso, não se consegue discriminar o valor individual de cada informação e mesmo
que o conseguíssemos, não seria um cálculo relevante, posto que para a empresa,
interessa o valor agregado pelas informações quando tomadas em conjunto.
A
informação é um dos muitos ativos reunidos sobre a rubrica de goodwill.
Sendo um ativo, também a ela pode associar-se uma depreciação que representa
uma diminuição no potencial de serviços que seriam gerados para a entidade.
Podemos afirmar que as razões pela qual o ativo informação se deprecia são:
·
A informação perece quando há uma demora na tomada de
decisão. A alteração dos cenários econômicos para o qual ela foi concebida
torna-a mais imprecisa, menos útil e, por conseguinte, menos valiosa;
·
A divulgação de uma informação para outros agentes
econômicos diminui as oportunidades de auferir-se ganhos extraordinários sobre
aquela informação;
·
A quantidade excessiva de informação produz uma
sinergia negativa. A partir de um determinado patamar, à medida que se adiciona
uma nova informação, diminui-se o potencial de geração de benefícios futuros do
conjunto de informações.
Estas
considerações são importantes para determinar a exata natureza da informação,
todavia, não é conveniente tratá-la como ativo separadamente. Em verdade, na
maioria das vezes nem mesmo uma pálida aproximação do valor de uma informação
pode ser estimada. Uma máquina produz um resultado ao fabricar um produto.
Quanto deste resultado advém do uso da máquina? E quanto advém da informação de
como usá-la? Não se pode dizer que ambos sejam o mesmo ativo, uma vez que esta
informação pode ser utilizada para fazer funcionar outras máquinas. Entretanto,
é preciso atentar para o fato de que a informação é um ativo, possui um valor,
e a Contabilidade não o registra nem isolada nem conjuntamente.
A TEORIA DA DECISÃO
A Teoria da Decisão assume a
presunção de que os agentes são racionais, isto é, agem de acordo com um
conjunto de crenças preexistentes, com o intuito exclusivo de maximizar a
Utilidade Esperada.
O conceito de utilidade é obtido da seguinte forma.
Constrói-se uma escala de desiderabilidade em que estão listadas as
conseqüências das possíveis ações a serem empreendidas pelo agente em uma dada
situação. Cada conseqüência corresponderá a um número real representativo da
utilidade da ação. Além disso, considera-se que haverá uma conseqüência
distinta para cada estado da natureza, conforme se pode visualizar no quadro
abaixo, extraído da Tese de Doutorado de GUERREIRO (1989) - Modelo Conceitual
de Sistema de Informação de Gestão Econômica: Uma Contribuição à Teoria da
Comunicação da Contabilidade:
Matriz de Benefícios
|
|
Ações Possíveis
|
Estados de Natureza S1 S2 S3 ... SN
|
A1
|
V11 V12 V13 ... V1N
|
A2
|
V21 V22 V23 ... V2N
|
A3
|
V31 V32 V33 ... V3N
|
...
|
...
|
NA
|
VM1 VM2 VM3 ... VMN
|
Note-se
que para cada estado da natureza é possível estabelecer uma relação de
correspondência entre uma ação e uma conseqüência. Cada conseqüência é
ponderada pela probabilidade de que o estado da natureza em que ela se situa,
realmente ocorra. A soma de todas as conseqüências ponderadas pela
probabilidade de que seus respectivos estados da natureza denomina-se Utilidade
Esperada.
Um agente é considerado racional se,
e somente se, suas ações vão ao encontro da maximização da função de Utilidade
Esperada. Entretanto, a racionalidade do agente requer ainda outras condições.
As preferências do agente deverão estar em consonância com o axioma da
transitividade que enuncia: se A é preferido a B e B é preferido a C, então, A
é preferido a C. Em outras palavras, se um investidor prefere investir em ações
a investir em ouro e prefere investir em ouro a investir no dólar, então,
preferirá investir em ações a investir no dólar.
Há estudos que comprovam que nem
sempre o axioma da transitividade é observado pelos agentes. Entretanto, esta
constatação não invalida a Teoria da Decisão. Se no exemplo anterior, o
investidor preferisse investir no dólar a investir em ações, estaria rompido o
axioma da transitividade. Entretanto, argumenta-se que outros estudos comprovam
a tendência dos tomadores de decisão corrigirem este desvio. Quando confrontados
com a incongruência de suas decisões, os agentes tendem a corrigir suas ações
de modo a satisfazer o referido axioma.
A transitividade serve apenas como
verificação da racionalidade dos agentes. Se o agente é racional e, portanto, a
Teoria da Decisão é válida, então, pode-se por meio desta ferramenta
lógico-matemática extrair conclusões relevantes acerca do valor e da utilidade
da informação.
Se um agente racional deseja
maximizar a função utilidade da informação, então, deverá estruturar uma matriz
de decisões em que se verificará a correspondência entre uma dada ação e a sua
Utilidade Esperada. Pode-se dizer que quando se seleciona uma ação que maximiza
a função utilidade abdica-se de adotar outras ações e, portanto, da utilidade
decorrente destas ações. A diferença entre estas duas utilidades é o valor da
informação que permitiu que ação menos útil não fosse tomada.
Contudo, apesar de parecer
extremamente objetiva e precisa, a Teoria da Decisão não chega a um resultado
insofismável quanto a Utilidade Esperada de uma informação e seu respectivo
valor. Lembremo-nos de que a função utilidade é obtida pelo produto da
conseqüência de uma ação pela probabilidade de que esta conseqüência ocorra em
um dado estado da natureza. Portanto, não se trabalha com certeza, mas, com
probabilidades.
Pode-se argüir que esta
característica é uma virtude do modelo, já que as condições de decisão do mundo
real são, quase sempre, revestidas de apreciável incerteza. Entretanto, é
preciso destacar que a ponderação de probabilidades atribuída por um agente aos
diversos estados da natureza, talvez, nem sempre se paute pela mais estrita
racionalidade.
Para que o modelo seja aplicado com
êxito, assume-se que os agentes são racionais quando atribuem probabilidades
aos estados da natureza. Pressupõe-se que os agentes valeram-se não apenas do
bom senso, mas, de processos lógicos para inferir que uma conseqüência é menos
provável que outra. Assumida esta presunção, a Teoria da Decisão aplica-se com
sucesso, pois introduz um procedimento lógico e verificável para a tomada de
decisão.
Alguns autores entendem que a presunção de
racionalidade dos agentes na atribuição das probabilidades é uma restrição
muito séria ao modelo. Talvez, possamos considerar que, em parte esta constatação,
é verdadeira. No entanto, é verdade que nenhuma teoria será capaz de tornar as
conseqüências das ações como uma certeza irrefutável. Se a uma dada decisão é
associado um alto grau de incerteza, então, a Matriz de Benefício evidenciará
conseqüências, que muito provavelmente, serão diferentes daquelas constatadas
após a decisão.
A teoria da Decisão pressupõe alguns
passos lógicos para que o agente selecione a melhor dentre as alternativas
disponíveis. GUERREIRO (1989) citando Glautier & Underdown menciona estes
passos:
1.
Reconhecimento de um problema ou necessidade
para uma decisão - Há uma grande subjetividade inerente à definição de
um problema. A percepção de que um dado evento é um problema dependerá do
conjunto de crenças do agente tomador de decisões. Se ele crê que uma dada
situação é diferente daquilo que ela deveria ser, então, pode-se dizer que se
está diante de um problema. Deste modo, o problema constitui-se num desvio dos
fatos em relação àquilo que se planejou, ou ainda, em relação aquilo que se
deixou de planejar.
2.
Definir todas as alternativas de solução
para o problema - Na maioria das vezes, o conjunto solução dos
problemas do mundo real é infinito ou tão grande que exaure a capacidade de
avaliação do tomador de decisões. Particularmente no que se refere ao mundo dos
negócios, este conjunto de alternativas é muito difícil de se determinar. Em
parte, esta dificuldade se deve ao fato de que o passo "1" não é
sempre observado. Muitas vezes, as situações de decisão surgem sem que se tenha
uma exata noção da extensão ou natureza dos problemas.
3.
Coletar todas as informações relevantes para
as alternativas de solução -
Tendo listado todas as alternativas de ações possíveis e conhecidas, são
seriadas de forma a evidenciar as preferências do tomador de decisões. Se todas
as conseqüências tivessem a mesma probabilidade de ocorrência, então, a ação
escolhida seria aquela que satisfizesse da forma mais completa a preferência do
agente. Entretanto, este poderá renunciar a uma ação preferida se ele a considerar
improvável. É neste momento do processo decisório que o agente atribui as
probabilidades de que as conseqüências se verifiquem nos diversos estados da
natureza concebidos.
4.
Avaliar e classificar o mérito das
alternativas de solução - As informações reunidas até o passo anterior
são suficientes para que o agente possa compor sua matriz de decisões. Assim,
ele pode verificar qual a alternativa que maximiza a sua função Utilidade
Esperada. Renuncia-se a todas as alternativas em prol daquela que apresentar a
melhor relação entre a conseqüência esperada e sua probabilidade de ocorrência.
5.
Decidir sobre a melhor alternativa de
solução, selecionando aquela melhor classificada - Com base na
fundamentação lógica a que submeteu as alternativas de decisão, o agente
escolhe e executa a alternativa escolhida no passo anterior.
6.
Validar a decisão através das informações de
feedback - Este procedimento é exterior ao processo decisório
propriamente dito. Constitui-se na verificação se a alternativa escolhida foi,
de fato, a que maximizava a função Utilidade Esperada de uma dada ação.
Entretanto, é de crucial importância uma vez que as decisões futuras dependerão
de uma adequada depreensão de como as variáveis inerentes a uma decisão se
comportaram no passado. Se houver razões significativas para crer que estas
variáveis prosseguem em um comportamento similar, este processo de feedback será de fundamental relevância
para que a Utilidade Esperada futura seja maximizada.
A seguir, fazem-se algumas
considerações acerca da validade da Teoria da Decisão no contexto das decisões
financeiras, particularmente, para aquelas que se valem dos relatórios
contábeis como insumo ao processo decisório.
A TEORIA DA DECISÃO E A CONTABILIDADE
"A contabilidade é um sistema de
processamento de informações destinado a captar e medir a essência econômica
dos eventos que afetam a entidade e relatar seus efeitos econômicos sobre a
mesma entidade para os tomadores de decisões" (MANOBE, 1986).
O
sistema de informação contábil é o um dos mais importante banco de dados do
qual se valem os tomadores de decisão, para selecionar as melhores alternativas
econômicas em uma entidade. Portanto, quando pensamos nos passos lógicos do
processo decisório, observamos que a Contabilidade ocupa um papel preponderante
tanto no que concerne a identificação do problema, quanto à sua avaliação e
escolha das alternativas mais convenientes.
Decisões de investimento e
financiamento podem ser tomadas com base em Matrizes de Benefícios. Em primeiro
lugar, elegem-se as ações disponíveis: (1) tomar fundos a longo prazo; (2)
emitir debêntures conversíveis em ações; (3) emitir ações ordinárias; (4)
renovar financiamentos de curto prazo; são as ações disponíveis para uma
empresa que deseja ampliar o seu ativo permanente.
Neste momento, manifestar-se-ão as
preferências do tomador de decisões. Provavelmente, ele preferirá o
financiamento a longo prazo ao de curto, por que assume a premissa de que os
financiamentos de curto prazo são inadequados ao financiamento de ativo permanente.
Talvez, ele prefira a emissão de ações ao financiamento a longo prazo, posto
que o ônus financeiro do passivo parece-lhe muito elevado.
Estas preferências não se
converterão necessariamente em ações concretas. Esta primeira análise foi
estática, sem considerar a mutabilidade dos diversos estados da natureza. Para
cada estado da natureza deverá estar associado um ônus financeiro diferente
para o passivo. Também é diferente a taxa de retorno sobre o capital próprio
requerida pelos acionistas potenciais; bem como, a possibilidade que os
debenturistas existentes exerçam o direito de conversibilidade de seus títulos.
Assim, o passo seguinte é atribuir
probabilidades às conseqüências de cada ação enumerada anteriormente. Esta
distribuição de probabilidades dependerá do grau de conhecimento associado aos
eventos futuros. Embora o futuro seja incerto, é possível reduzir a incerteza
com a utilização de ferramentas estatísticas como a regressão linear. Se a
presunção é que o futuro seja a evolução natural dos eventos passados, então,
uma adequada avaliação das informações retrospectivas fornecerá meios
eficientes para a fixação da distribuição de probabilidade dos estados de
natureza associados a uma decisão econômica.
Tendo avaliado as conseqüências de
uma dada ação, bem como, sua respectiva probabilidade, o tomador de decisões
financeiras poderá calcular a Utilidade Esperada daquela ação. Em nosso
exemplo, talvez conclua-se que a ação que agrega mais utilidade é a emissão de
ações. O estado da natureza que se apresenta como o mais provável é aquele em
que uma forte recessão econômica provocará um aumento do custo financeiro das
outras fontes de fundos.
Todavia, deve-se considerar que o
processo decisório implica uma reavaliação contínua das premissas assumidas. No
intervalo compreendido entre a identificação de um problema e a tomada de uma
decisão, que almeje a solução deste problema, poderá haver inúmeras
intercorrências. Assim, aquela distribuição probabilística estabelecida
inicialmente poderá não ser válida se algum fato novo alterar as premissas
fundamentais da análise. Se esta distribuição se alterar, então, estará
alterada também toda a Matriz de Benefício.
Quando o tomador de decisões crê que
a distribuição de probabilidades adotada não é compatível com a realidade dos
eventos econômicos, ele pode decidir pela aquisição de informação que
possibilite a fixação de uma nova distribuição. Desta forma, verificar-se-á uma
disparidade entre as Utilidades Esperadas atinentes as duas Matrizes de
Benefícios no qual foram consideradas distribuições de probabilidades
diferentes. Se a informação produziu um aumento da Utilidade Esperada, então, o
seu valor é a diferença entre estas utilidades.
Evidentemente, a determinação do
valor da informação é um aspecto relevante da análise, pois o tomador de
decisões não deverá desembolsar um montante superior a Utilidade Esperada
marginal atinente a esta informação. Neste caso, mostra-se mais conveniente
optar por uma Utilidade Esperada mais reduzida, mas que não implica na
incorrência de custos de busca da informação.
Como se pode constatar, a lógica
subjacente a Teoria da Decisão também é aplicável às decisões financeiras.
Deve-se ressaltar que as inconsistências de padrões contábeis comprometem o
melhor uso desta ferramenta lógica. Assim, se os ativos são avaliados ao custo
histórico, se os retornos sobre investimentos são distorcidos, se não se
considera no arcabouço teórico da Contabilidade o conceito de custo de
oportunidade, então, a assunção de premissas objetivas que fundamentará a
tomada de decisão, torna-se bastante prejudicada.
Este não é obviamente um problema
alusivo à Teoria da Decisão. Se as práticas contábeis evoluírem a ponto de
fornecerem uma avaliação econômica relevante do patrimônio da entidade, as premissas
sobre as quais se orienta a teoria da Decisão estarão em consonância com a
realidade econômica do empreendimento.
CONCLUSÃO
A Ciência da Tomada de Decisão pode
conceber modelos lógicos nos quais as decisões financeiras se tornarão mais
consistentes. Se for possível associar uma conseqüência a uma ação, e uma
probabilidade de ocorrência a uma conseqüência e se o tomador de decisão é
racional, o modelo preconizado pela Teoria da Decisão mostra-se muito eficiente
na avaliação das Utilidades Esperadas de cada ação.
A Contabilidade tal qual está
refletida nos Princípios Contábeis Geralmente Aceitos, não fornece informações
que possibilitem a fixação de premissas consistentes. Desta forma, a tomada de
decisões fica muito suscetível a erros. As conseqüências de cada ação são
avaliadas de forma distorcida. Se uma companhia empreende uma ação com o
intento de majorar o fluxo de benefícios futuros de um ativo, mas,
concomitantemente, avalia o mesmo ativo ao custo histórico, então, verifica-se
uma clara inconsistência entre os objetivos da organização e os métodos os
quais se vale para alcançá-los.
Neste caso, a Teoria da Decisão é
inócua, pois o pressuposto fundamental deste enfoque é que os agentes tenham
uma postura racional, não só na avaliação das alternativas de ações, mas,
principalmente, na escolha de premissas sólidas.
BIBLIOGRAFIA
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HENDRIKSEN, Eldon S. VAN BREDA. Michael
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Fonte: Congresso de Contabilidade e Controladoria da USP.
Matéria postada por Werley Novais.
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