sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Banco Central Deve Garantir Dólares e o Câmbio?

Posted: 04 Aug 2011 08:25 PM PDT

De 1964 até 1998, era política econômica o Estado garantir ao investidor estrangeiro um câmbio fixo mais ou menos previsível.
Além de uma farta oferta de dólares, supridas sempre pelo Banco Central, no momento que precisassem.
Em 1998 continuamos com a política de suprir liquidez e dólares ao investidor estrangeiro, mas o dólar passou a ser flutuante.
Mesmo assim, a política foi de imprimir um câmbio relativamente estável, com o BC comprando dólares quando achava que a flutuação era grande demais.
Os governos de Lula e Dilma, também continuaram com esta política.
Neste artigo, que escrevi 10 anos atrás, argumentava que era o investidor internacional que deveria se preocupar com a sua saída do Brasil, e não o Governo.
Que não é função do Estado suprir de dólares na quantidade, preço e hora que o investidor quiser, e pelo menos, argumentava, parte desta responsabilidade deveria ser compartilhada.
Peço aos estudantes de Administração que estudem esta proposta com carinho, para que possamos mudar esta política do Estado, que na nossa opinião não é necessária.
Escrevi o artigo como uma carta aberta ao um investidor internacional, daí a ironia em alguns trechos. 

Prezado Mr. John Smith,
Agradeço sua carta mostrando interesse em investir no Brasil.
Sobre as suas perguntas sobre o risco cambial, e a capacidade do Banco Central suprir dólares para a remessa de lucros, juros e dividendos sempre que vocês precisarem, que o Sr. alega ser uma das funções do Estado, quero lhe orientar no seguinte: 
Primeiro gostaria de lembrá-los que ao comprar uma empresa já existente no Brasil, como o Pão de Açúcar por exemplo, ao contrário do que se possa imaginar, os senhores não estarão ajudando a gerar empregos, nem a aumentar a produção.
Vocês estarão comprando o que já existe. 
Num primeiro momento, nossa situação até ficará pior, já que os dividendos que eram pagos aos acionistas brasileiros em reais, passarão a ser pagos em dólares. 
Investir num país sem se preocupar se no futuro ele terá ou não as divisas para repatriar o capital e os lucros tem sido um erro de vocês investidores, e um erro ainda maior dos nossos governantes que se acham no dever de fornecer esta "estabilidade cambial".
E é esse erro que está gerando a atual confusão cambial que está nos afligindo agora.
Acreditar que o livre mercado se encarregará de suprir os dólares na hora em que os investidores quiserem, ou deles necessitarem, provou ser um enorme equívoco. Acreditar que o Estado supriria, também.
Tem outra saída?
Se os senhores com os seus contatos internacionais redirecionarem a produção da empresa a ser comprada para o mercado exportador, vocês estarão gerando as divisas dos juros e dividendos a serem remetidos, sem mais nunca depender do nosso Banco Central, e nem da nossa taxa de câmbio.
As suas preocupações diminuirão com relação ao Risco Brasil e o risco cambial. 
Se o Brasil declarar a moratória novamente, aquilo que vocês passarão a exportar lhes garantirá o pagamento, e o câmbio nestas horas explode reduzindo seu risco cambial.
A única mudança que nós Administradores Econômicos faríamos, é acabar com o Monopólio do Banco Central comprar todas a dívidas geradas pelas exportações. Quem não quiser, como vocês, não serão mais obrigados. 
Normalmente, se 2% da sua produção daqui fosse exportada, já seria o suficiente para pagar juros e principal na maioria dos casos, e os senhores não ficariam em pânico se as nossas reservas caíssem.
Se o setor onde os senhores pretendem investir não for passível de exportação, como no setor de varejo e serviços, façam uma parceria como a que fez a rede de fast food McDonald´s, que exporta carne brasileira para suas filiais instaladas no Japão.
Nosso governo, como a maioria dos governos da Ásia e o da Rússia, está tão ávido por investimentos estrangeiros que reluta em exigir algumas condições mínimas do investidor que garantam a segurança futura do próprio investimento feito aqui.
Na carta de intenção que os senhores enviarão ao governo brasileiro, tentem negociar a substituição desses 10% de imposto imbecil por um compromisso de gerar um certo volume de exportações por ano, com o direito no uso dessas divisas como bem lhes convier.
Aí, em vez de ficar de olho nas nossas reservas, os senhores ficariam de olho nas suas próprias exportações.
Os senhores já usaram esse tipo de raciocínio quando foram a Lua e levaram sabiamente o combustível para a viagem de volta.
Acontece que o nosso combustível se chama Real e não dólar, e a forma de obter dólar é exportando.
Portanto, se quiserem voltar ao país de origem, os senhores terão de produzir o "combustível" da volta exportando.
Lembrem-se o que acontece nas suas próprias empresas.
Acionistas que querem sair das suas empresas precisam achar um acionista para substituí-los, o que é feito na Bolsa de Valores. Não é o Estado que garante a saída, nem a Empresa. São os acionistas.  
Pensem bem, não faz sentido investir no Brasil e depois não ter como remeter os merecidos dividendos, e depender do Estado é sempre uma decepção. 
Não é do espírito do neoliberalismo que cada um resolva seus próprios problemas sem depender sempre das tetas do Estado ou do BNDES?
Não esqueçam do que os senhores aprenderam nas escolas de administração: um investimento que dependa da boa vontade ou de uma promessa futura de um governo para arrumar dólares, mesmo que seja do governo americano ou do FMI, jamais deveria ser feito.
Infelizmente, os Bancos Centrais do mundo querem poder e monopólio sobre as reservas cambiais, e não permitem administradores fazerem as suas reservas em dólar, para assegurar a remessa de juros e dividendos, sem ter que comprar no mercado spot, ou no meio de uma crise.
O mundo seria muito mais estável, as crises seriam muito menores, se usássemos os ensinamentos da ciência da administração, do que o discurso único centralizador da ciência da economia. 


Esta matéria é uma contribuição do Profº. Flávio Dantas, docente dos cursos de Ciências Contábeis da FAINOR e UESB, e também, orientador/componente do Grupo de Pesquisas e Estudos Contábeis - Graciliano Ramos

Um comentário:

  1. Brilhante a contribuição do Prof. Flávio Dantas. Este é um assunto cuidado com prioridade pelos investidores que operam na Bovespa e Bm&F. O controle de câmbio é um assunto complicadíssimo no atual modelo cambial brasileiro. Talvez, por conta do neoliberalismo, dado que as empresas que dominam tecnologias de ponta no pais, com produtos com valor agregado muito maior que as commodities, fazem com que o governo estabeleça suas políticas econômicas em função do controle que estas detêm do mercado. Neste caso fica evidente a luta que o governo trava para tomar as "rédeas" do mercado. Luta esta que se expressa facilmente nos constantes aumentos do IOF sob capitais estrangeiros, no caso da política cambial. É uma lógica difícil de entender, principalmente para quem não é um especulador de mercados futuros na administração de seus derivativos. O capital nocivo, volátil é demasiado degradante para uma economia emergente como a do Brasil porquanto o poder de sucção que esse "tipo" de capital exerce na economia é muito grande sendo que seu limite se dará no momento de uma recessão ou moratória da dita economia. O foco do Prof. Flávio, linhas acima, a meu ver não se faz necessariamente no controle de cambio, mas sim na lógica que deve ser estabelecida unilateralmente pelo investidor estrangeiro em enviar um montante de investimentos como carro chefe e posteriormente fomentar seus rendimentos, em dólares, não somente como rentabilidade de juros, mas também como resultado de lucros operacionais que podem até serem resultados de exportações. Contudo me fica a pergunta, será que esses investidores abririam mão de render seus capitais sem moverem uma palha?



    Werley Brito Novais - discente do Curso de Ciências Contabeis da UESB e, componente do Grupo de Pesquisas e Estudos Contabeis - Graciliano Ramos.

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