Cinco
propostas para enfrentar uma ruptura na zona do euro.
Em meio ao agravamento
da crise na zona do euro, um centro de estudos de políticas públicas britânico
lançou um desafio tentador a economistas: premiará com 250 mil libras (R$ 784
mil) quem conceber o melhor plano de contingenciamento para uma potencial ruptura
no bloco dos países de moeda única.
O prêmio, chamado Wolfson Economics
Prize, será entregue no dia 5 de julho deste ano por um comitê de jurados
durante cerimônia na sede do instituto Policy Exchange, em Londres.
A pergunta à qual os estudiosos
tiveram de buscar uma resposta é: "Se um membro da zona do euro deixar a
união monetária e econômica, qual seria a melhor forma de gerenciar tal
processo para assegurar as bases do crescimento e da prosperidade do bloco no
futuro?"
Segundo Lord Wolfson, cuja família mantém a entidade
beneficiente que divulgou o prêmio, há uma necessidade cada vez maior para se
encontrar uma solução frente à qualquer dissolução na zona do euro.
A premiação, que acontece todo ano, é a de maior valor depois
do prêmio Nobel, da Suécia.
Veja, abaixo,
as propostas inscritas pelos cinco finalistas:
1)
A Grécia - ou outro país - poderia deixar a zona do euro
O cenário mais realista para uma ruptura na zona do euro é o
de que a Grécia, ou outro país periférico mais fraco, deixe o bloco e introduza
uma nova moeda, que perderia valor vertiginosamente. Isso levaria à moratória
de grande parte da dívida desses governos.
Os preparativos para uma saída devem ser feitos em segredo e
de imediato. Antes da partida, entretanto, alguma forma de controle de capital
será essencial, incluindo o fechamento temporário de bancos e ATMs.
Sem tempo
hábil para imprimir novas cédulas, as notas e as moedas de euro continuariam a
ser usadas para transações de baixo valor.
Haveria, inicialmente, uma paridade da nova divisa com o
euro, antes de uma depreciação em torno de 30% a 50%, o que impulsionaria a
competitividade internacional da Grécia.
O governo teria de "redenominar" a dívida em nova
moeda nacional e esclarecer sua intenção de renegociar os termos da dívida.
Seria preciso
também anunciar medidas robustas para manter a inflação sob controle. Com tais
iniciativas, os mercados poderiam voltar a emprestar ao país a médio prazo.
Esta também seria uma oportunidade para o país que está de
partida se desvencilhar de uma camisa de forças de dívida.
Mark
Pragnell, economista da Capital Economics
2)
Dor aguda, mas de curta duração
Muitos economistas esperam consequências catastróficas se
algum país deixar o euro.
Durante o último século, no entanto, 69 países mudaram de
moedas com pouca volatilidade econômica.
A mecânica de rompimentos de moedas é complicada, mas
factível. Exemplos históricos fornecem indícios de possíveis soluções.
O grande problema oculto na Europa é que os países
periféricos têm níveis de dívida externa maiores do que tinham na maioria das
crises anteriores de mercados emergentes. Eles também enfrentam grandes diferenças
de salários e preços em relação a seus vizinhos mais ricos.
A Europa tem hoje as características de uma crise clássica de
equilíbrio de pagamentos em mercados emergentes. Desse modo, o problema não é a
mecânica da saída (do euro), mas como realizar um ajuste severo e necessário.
O ajuste pode acontecer rapidamente, deixando-se o euro e
desvalorizando (a nova moeda), ou lentamente, por meio de uma queda de salários
e preços reais. Deixar o euro e desvalorizar a moeda seria muito doloroso, mas
a dor seria aguda e curta.
A saída iria acelerar as falências, mas daria uma poderosa
ferramenta de políticas para restaurar a competitividade por meio de taxas de
câmbio flexíveis. Moratórias controladas e reprogramação das dívidas combinadas
com desvalorizações são inevitáveis e até mesmo desejáveis.
A periferia europeia poderia crescer de novo, e rapidamente,
com níveis de dívida menores e taxas de câmbio mais competitivas. Isso ocorreu
com países que deixaram o padrão-ouro nos anos 1930 (Grã-Bretanha e Japão em
1931, Estados Unidos em 1934, França em 1936). Também ocorreu com mercados
emergentes após recentes moratórias e desvalorizações (Ásia em 1997, Rússia em
1998, Argentina em 2002 e Islândia em 2008).
Jonathan
Tepper, economista da Variant Perception
3)
Todos retornam às suas moedas nacionais
A Alemanha encarregaria a uma comissão supersecreta a
preparação de um plano para ser adotado apenas se um país estivesse prestes a
sair da zona do euro.
Como parte desse plano, líderes dos 17 países que integram a
zona do euro seriam chamados para uma reunião de emergência.
Nela, a
chanceler alemã proporia aos líderes que todos, coletivamente e imediatamente,
abandonassem o euro, voltando a adotar suas moedas nacionais com as mesmas
cotações que registravam no momento em que os países adotaram a moeda única.
O Banco Central Europeu (ECB, na sigla em inglês) seria
abolido e suas funções seriam devolvidas aos bancos centrais nacionais. Todas
as contas bancárias, ativos, passivos e obrigações de cada país-membro seriam
imediatamente "redenominadas" em moedas nacionais.
Ativos, passivos e contratos derivativos que não fossem
identificáveis como domiciliados em um Estado específico seriam "redenominados"
em uma moeda única europeia – uma cesta das novas moedas detidas pelos
acionistas do BC europeu.
Todos os Estados-membros concordariam em estender liquidez
ilimitada para os bancos domiciliados em seus Estados e a maioria acabaria
precisando de recapitalização.
Notas de euro e moedas seriam "redenominadas" na
moeda do Banco Central nacional que as emitiu (notas de euro contêm prefixos
com letras e números de série que identificam o emissor).
Notas nacionais seriam impressas assim que possível. Mercados
reabririam após feriados bancários compulsórios e o novo dracma cairia,
digamos, 60% abaixo da sua taxa oficial de conversão para o euro. O novo marco
alemão subiria, digamos, 20% acima da sua taxa oficial de conversão.
Isso permitiria que os Estados do sul voltassem a trabalhar e
limitaria o crônico superávit de comércio da Alemanha com a zona do euro. Essa
opção seria caótica, mas colocaria um fim à crise, estabelecendo as fundações
para uma nova Europa.
A chanceler alemã explicaria que, caso o pedido alemão não
fosse aceito por todos os países membros, a Alemanha colocaria em prática um
plano em separado para abandonar o euro sozinha.
Neil
Record, economista da Record Currency Management
4
– Como converter moedas
Uma eventual fragmentação da zona do euro implica também na
necessidade de converter contratos regidos pelo euro para as novas moedas. Isso
é relevante para títulos, empréstimos, depósitos e outros instrumentos dos
mercados financeiros.
Esse processo não é fácil execução, devido a restrições
legais. Os diferentes instrumentos financeiros são administrados por leis
diferentes e muitos instrumentos denominados pelo euro são regulamentados por
leis de outros países, especialmente leis inglesas.
Os governos dos países da zona do euro não podem mudar leis
de outros países e também não podem converter facilmente bens regidos por tais
legislações.
Uma vez que existem dezenas de trilhões de contratos em euro
regidos por leis de outros países, o problemas que temos pela frente, com uma
eventual dissolução do bloco, é muito grande.
Nosso plano destaca a importância de facilitar um processo de
conversão sem grandes sobressaltos em todos os possíveis cenários de separação
na zona do euro.
Nele, incluímos a necessidade de uma cesta de moedas ECU – 2
(European Currency Unit) para acomodar as exigências relativas ao euro no caso
extremo em que o euro deixaria de existir.
A ECU-2 seria uma ponte entre o euro (que não existiria no
caso de fragmentação total da zona do euro) e as novas moedas nacionais.
O conceito de ECU – 2 iria, portanto, ajudar a evitar
conversões arbitrárias de moedas e batalhas legais prolongadas a respeito das
conversões. Na falta de um processo eficiente de conversão, um fim da zona do
euro teria efeitos devastadores e poderia causar uma paralisação completa do
sistema financeiro global.
Jens
Nordvig, economista da Nomura Securities
5)
Separar a zona do euro em duas, para evitar a fuga de moedas
Minha abordagem foi criada para permitir uma transição
tranquila da zona do euro para duas ou mais regiões e evitar o fluxo de capital
especulativo, que pode obrigar um país a sair da zona do euro.
Estas novas regiões teriam seu próprio Banco Central, política
monetária e moeda. Todos os euros seriam tratados de forma igual e trocados a
uma cotação definida por uma cesta de novas moedas a um índice fixo e
determinado - o documento descreve como este índice seria determinado. Cada um
escolhera para qual moeda converteria os valores em euro.
O valor determinado para contratos e dívidas já existentes
regidos pelo euro poderia ser determinado pela taxa de câmbio e o valor
relativo das novas moedas.
Depois da separação, a competitividade poderia ser retomada
pelo país ou países que saírem (da zona do euro) gerenciando uma desvalorização
gradual, usando taxas de juros nominais mais altas e inflação. Taxas de juros
mais altas evitam um colapso repentino da moeda e a fuga de capitais. Além
disso, qualquer negociação ou calote de dívida pode ser gerenciado
separadamente.
Os poupadores dos países que saírem não serão penalizados. Os
especuladores não serão recompensados e o processo também dá o tempo necessário
para a migração para os regimes das novas moedas.
Pelo fato de reduzir o risco do fluxo de capitais
especulativos, esta abordagem também pode dar mais base para os países da zona
do euro que ainda permanecerem juntos.
Esta abordagem pode ser chamada de Newney, ou, New Euro-White
(NEW), referindo-se à clara (white) de um ovo, e New Euro-Yolk (NEY),
referindo-se à gema (yolk) de um ovo. Como quando a clara é separada da gema.
Cathy
Dobbs, investidor privado
Fonte: BBC - Brasil.
Matéria postada por Werley Novais, membro do Grupo de Pesquisas e Estudos Contábeis - Graciliano Ramos (GPEC-GR).
Nenhum comentário:
Postar um comentário