Como se
tornar um profissional melhor
A psicóloga mineira Amanda Mendes
Siqueira, de 37 anos, supervisora regional de vendas da Covidien, multinacional
de produtos de saúde, deixou há oito anos uma carreira na área de recursos
humanos para tornar-se vendedora técnica de equipamentos e produtos
hospitalares.
Sua experiência na área comercial era
zero. Em hospitais, ela só havia entrado duas vezes na vida. Mesmo assim,
apostou que aprenderia na prática a vender bisturis, cateteres, máquinas e
suturas fabricados pela Covidien. “Sempre mostrei humildade e vontade de
aprender”, diz Amanda. Quando tinha alguma dúvida, perguntava.
A chefe explicava, os médicos mais próximos davam uma
força. O resultado foi que Amanda aprendeu o trabalho no dia a dia. Com o
tempo, foi premiada duas vezes e promovida a supervisora regional. Como Amanda,
todo mundo aprende coisas importantes durante o trabalho.
Na verdade, a prática é a maior fonte
de conhecimento a que um profissional pode ter acesso e a mais rica delas. Essa
é a opinião do professor Michael Eraut, da Universidade de Sussex, no Reino
Unido, um dos maiores especialistas do mundo em aprendizado no trabalho.
Segundo o cientista, o que determina
o desenvolvimento de um profissional são as atividades que ele pratica em seu
cotidiano: as tarefas desafiadoras, as tentativas e erros, a participação em
equipes e a observação de um chefe inspirador. São essas interações,
aparentemente banais, que aumentam a bagagem profissional e habilitam a pessoa
a progredir na carreira. Em seus estudos, patrocinados pelo governo britânico,
Michael e sua equipe observaram e entrevistaram cerca de 450 profissionais de
12 áreas, como saúde, engenharia, auditoria e contabilidade, em início e meio
de carreira.
A conclusão foi de que as pessoas
adquirem saber de duas maneiras. De um lado, estão cursos, conferências e
coachings, atividades em que o profissional tem de parar o que está fazendo
para aprender. De outro ficam as coisas que se aprendem durante o trabalho:
fazer parte de uma equipe, relacionar- se com clientes e enfrentar problemas.
Essas ações, apesar de não terem o aprendizado como objetivo principal,
representam algo entre 70% e 90% das competências de uma pessoa.
Essa sabedoria é formada por
lembranças de episódios passados, guardadas de alguma forma, ainda que
instintivamente. Durante o trabalho, levamos tudo isso em consideração de
maneira automática. Basta pensar numa reunião de negócios. Mais do que a
análise objetiva, a intuição e a experiência são fundamentais para interpretar
o que está em jogo e o papel dos participantes. Outro exemplo é o momento de
tomar uma decisão, em que muitas vezes não há tempo para reunir dados e
analisar todos os argumentos.
Também nesse caso, só resta comparar
a situação atual com cenários anteriores para identificar semelhanças e
escolher o melhor caminho a seguir. “As pessoas sabem fazer muitas coisas sem
que tenham que parar para pensar como sabem fazê-las. Se elas conseguem ou não
anotar aquilo num papel, não faz diferença”, diz Michael. Resumindo, trata-se
de uma boa notícia: quanto mais você trabalha, mais aprende aquilo que
realmente precisa para crescer. A questão, portanto, é como adquirir a
experiência de uma maneira mais organizada.
A andragogia, ciência que estuda a
educação de adultos, mostra como funciona a aquisição de conhecimento entre
profissionais. Diferentemente de uma criança, um adulto tem um repertório
específico de sabedoria acumulada e muita opinião formada. Por ser crítico, ele
avalia se aquele novo conhecimento trará algum benefício para sua vida (ou
profissão) antes de aceitá-lo.
Se aquilo fizer sentido, ele absorve
o conhecimento. Se não fizer, descarta. No trabalho, uma pessoa realiza essa
triagem continuamente e, na maioria das vezes, de maneira inconsciente. “Os
adultos precisam perceber uma aplicação prática do que estão aprendendo e
entender, rapidamente, como aquilo melhora o seu desempenho”, diz Paulo Campos,
consultor associado da consultoria LabSSJ e professor do Insper, escola de
administração de São Paulo.
Uma série de pequenas atividades é
capaz de impulsionar o aprendizado no trabalho. A grande maioria delas depende
da atitude e da iniciativa de cada pessoa. Profissionais que fazem perguntas,
pedem e dão feedback com frequência tendem a aprender mais. Quem tem o hábito
de ouvir e observar pares e superiores também aumenta bastante as chances de
ampliar seus conhecimentos.
Portanto, para quem quer aprender
coisas novas, o home office não é uma boa opção. Melhor é trabalhar em equipe
ou ao lado de um colega, o que lhe permite trocar experiências sobre eventos no
momento em que acontecem e entender como os outros analisam situações, tomam
decisões e as monitoram.
Também é importante assumir tarefas
desafiadoras e, quando possível, se engajar em projetos que envolvam
profissionais de outras áreas. “Quando os colegas de trabalho têm competências
diferentes das suas, você é forçado a entender o novo e a avaliar de que forma
aquilo pode ajudar em suas tarefas”, diz Michael.
Não desanime se tiver um chefe ou
colega que tem pouco a ensinar. Profissionais fora do grupo de trabalho também
podem ser uma fonte rica de conhecimento.
Mas, nesse caso, cabe a você estender
sua rede de contatos para além da baia ao lado. Ouça o que os outros têm a
dizer, mostre interesse pelos projetos e tarefas da área que o atrai, elogie,
ofereça seu apoio. “O aprendizado informal depende muito das relações que a
pessoa consegue construir na organização”, diz Paulo Campos. Independentemente
da empresa ou do ambiente, a responsabilidade de buscar novos conhecimentos é
do profissional.
“A atitude de quem quer aprender é
diferente da de quem quer ser ensinado, e essa diferença é muito importante”,
diz Luiz Carlos Cabrera, professor da Escola de Administração de Empresas de
São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGVEaesp) e diretor da Amrop Panelli Motta
Cabrera, firma de recrutamento executivo. “Se uma atitude passiva é um defeito,
ser curioso é uma competência a ser praticada”, diz Cabrera.
Integrar equipes multidisciplinares,
participar de projetos simultâneos à sua rotina ou cooperar com atividades fora
de seu departamento podem gerar bons resultados futuros. Com mais aprendizado
prático, um profissional adquire novas competências sem perceber e ainda
incrementa o currículo.
Em seus processos seletivos, a
headhunter Adriana Prates, presidente da Dasein Executive Search, leva muito em
consideração a experiência prática do candidato. “Nunca as empresas me pediram
para contratar um profissional com MBA em uma área específica. O perfil
desejado normalmente está relacionado à vivência dele na área em que vai
atuar”, afirma Adriana.
Aprenda errando
Uma das maneiras mais importantes de
consolidar um novo conhecimento é aprender com os erros. Apesar de ser um
processo rico e cheio de lições, muitas vezes ele é interrompido precocemente,
já que o fracasso ainda tem um componente negativo forte na cultura
corporativa. “A maioria das pessoas não sabe lidar com o fracasso”, diz Amy
Edmondson, professora da Harvard Business School.
“Elas ficam frustradas, perdem tempo
pensando no que significa o fracasso, e não no que podem aprender com a
experiência.” Parte do problema é que os profissionais estão mais preocupados
com o que irão dizer a respeito deles. Muitas vezes, ficam muito apreensivos
com a reação do chefe e com as fofocas sobre seu mau desempenho. De acordo com
Amy, isso gera um círculo vicioso: o profissional falha, evita entender o
porquê do erro e não aprende nada com o episódio.
Muito provavelmente vai acabar
cometendo o mesmo erro. “Você não pode criar nada novo sem antes tentar”, diz
Amy. “Além disso, é preciso aceitar que muitas dessas tentativas irão
fracassar.”
Lições do fracasso
Uma dica importante é não transformar
o erro em tragédia. “É apenas um lembrete de que você é um ser inacabado”, diz
a professora Carol Dweck, PhD em psicologia da Universidade Stanford. “O erro
contém a pista para a melhor maneira de agir da próxima vez”, escreve Carol no
livro Por Que Algumas Pessoas Fazem Sucesso e Outras Não (Editora Fontanar).
Quando as pessoas deixam de pensar em termos de sucesso ou fracasso, uma
dualidade que deriva do código mental fixo tornam-se muito mais capazes de
aprender estratégias para superar os problemas, admitir os erros e encará-los
como um momento de superação e também de aprendizagem.
Um fator importante é reconhecer a
forma como você aprende. Não existe uma maneira única, cada pessoa tem a sua e
é essencial conhecê-la para não insistir na maneira errada. “Para reconhecer
seu estilo, resgate os momentos na vida em que aprendeu bem e rápido”, diz Luiz
Carlos Cabrera.
A metodologia chamada Learning Style
Inventory (LSI), ou “inventário de estilos de aprendizado”, utilizada no Brasil
pela consultoria LabSSJ, mostra quatro perfis pessoais: o divergente, o
assimilador, o convergente e o acomodador (veja o quadro Entenda Seu Estilo).
Uma pessoa pode ter facilidade de aprender diante de dados quantitativos e
outra pode preferir questões abstratas.
Não existe melhor nem pior, apenas o
que rende mais para cada um. Mas, qualquer que seja seu estilo, é preciso
lembrar que aprendizado exige persistência. Só coisas muito simples são
compreendidas plenamente num primeiro momento. Por isso, nada de deixar que uma
dificuldade passageira se transforme numa desistência. Tente outra vez, até
aprender fazendo.
Fonte: Jornal Contábil
Matéria postada por Werley Novais
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