A importância da transparência contábil num mundo em crise
A ausência de métodos e normas contábeis comuns entre as nações
da União Europeia e internacionalmente aceitas está se tornando um crescente
dilema em meio à crise econômica que assola o Velho Continente. E nem poderia
ser diferente, considerando o forte viés fiscal do problema, gerando riscos e
temores de inadimplência de governos. Num cenário de instabilidade como esse, é
natural que orçamentos, balanços,déficit em conta corrente e fluxos de caixa
estatais auditados e contabilizados sem sinergia e por meio de processos
diferentes ampliem as desconfianças e incertezas.
Essa questão
inerente à Europa evidencia a importância das Normas Internacionais de Contabilidade para
o Setor Público (IPSAS, na sigla em inglês). A padronização, sem dúvida,
possibilita avaliações equânimes e mais adequadas, ampliando a confiança nos
dados. A lição, aliás, vale muito para o Brasil, considerando que nossa divisão
política, com 26 estados e mais o Distrito Federal, é tão complexa quanto a de um bloco de
nações como a Comunidade Europeia.
Para nosso país,
portanto, será fundamental a adesão às IPSAS, o que acontecerá somente em 2014,
já que o prazo original, que seria este ano, foi prorrogado pela portaria 828,
de 14 de dezembro de 2011. No presente cenário da economia global, esse
adiamento talvez não tenha sido a melhor alternativa. O IPSAS define um padrão
internacional para a contabilidade pública. Assim, torna possível
comparar demonstrações contábeis entre instituições governamentais de uma
diversidade de países, propiciando maior transparência. Significa modernização,
mais transparência e eficácia da contabilidade do setor público, algo
mais consentâneo com o capitalismo democrático.
Países em crise
financeira têm maior necessidade de transparência em suas contabilidades,
principalmente para despertar a confiança do mercado, instituições financeiras
e organismos multilaterais. Contudo, é fundamental que todas as nações, em
dificuldades ou não, tenham suas demonstrações financeiras acuradas, por meio
de métodos modernos de contabilidade, o que, certamente, possibilita
mais acesso e compreensão, por parte da sociedade, dos agentes econômicos e
instituições internacionais, sobre a situação fiscal e contábil dos governos.
Os padrões de demonstrações financeiras dos países são únicos, o que torna a
comparação entre governos extremamente difícil. Os
complexos desafios orçamentários e fiscais são mais complicados de
serem resolvidos em razão de sistemas de caixa defasados.
Desde a aprovação
da lei 11.638/07, que alterou a Lei das S/A, houve uma completa aceitação do
universo corporativo às Normas internacionais de Contabilidade (em
inglês, International Financial Reporting Standards – IFRS), aplicadas ao
setor privado. Verificou-se, principalmente, a compreensão de que elas deveriam
de ser adotadas, pois o mundo exige transparência na divulgação dos resultados.
Afinal, as empresas, mais do que nunca, têm uma responsabilidade social muito
grande frente à sociedade.
Os empresários não
mediram esforços financeiros para se adequar rapidamente às novas normas. A
sociedade contábil, do mesmo modo, também fez imenso empenho para viabilizar
rapidamente sua aplicação com eficácia e segurança. Hoje, as novas normas já
são amplamente utilizadas em diversas empresas, de capital aberto e de grande.
O que é muito bom. Afinal, lei é para ser cumprida e aplicada. As demais
empresas privadas também devem se adequar a novos padrões contábeis, de acordo
com o CPC-PME, Correlação às Normas Internacionais
de Contabilidade The International Financial Reporting Standard for
Small and Medium-sized Entities (IFRS for SMEs).
Assim, é de se
esperar que, apesar da prorrogação do prazo para 2014, o setor público
brasileiro adote as IPSAS o mais rapidamente possível. O Tesouro Nacional já o
fez. Publicou em seu site balanço consolidado já com base nas normas
internacionais. Nas notas explicativas, observou: “As mudanças vêm
ocorrendo gradualmente em razão das restrições da Administração Pública, que
mantém uma visão orçamentária em detrimento da importância do patrimônio, e da
dificuldade em adequar os sistemas de informação aos padrões necessários ao
registro da Contabilidade Pública”.
O Brasil vem
enfrentando de modo bastante eficaz as crises mundiais, mantendo razoável
patamar de crescimento em relação à maioria dos países. Neste momento, seria
muito positiva a antecipação das novas normas contáveis para o setor público,
um gesto de boa vontade e transparência. Como cidadãos e contabilistas,
esperamos que os gestores da União, estados e municípios agilizem esse
processo. Estamos em um ano eleitoral e quem sabe os novos prefeitos iniciem a
sua gestão com a implantação das IPSAS já para 2013. Seria uma grande tendência
em aspectos de transparência por parte da administração pública que todos nós
brasileiros esperamos. Afinal de contas, como o próprio nome diz, os recursos
dessas empresas são de fato público, de todos nós contribuintes.
O setor público
pode contar com profissionais e empresas contábeis com experiência na aplicação
destas normas.
Vagner Jaime
Rodrigues e Geuma Nascimento são mestres em contabilidade, sócios da
Trevisan Gestão & Consultoria e professores da Trevisan Escola de Negócios.
Fonte: Jornal
Contábil
Enviada por Diego Duarte.
Postada por Werley Novais.
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